segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Das cinzas.

Ainda me lembro do dia em que te conheci. Eras igualzinho ao que és hoje! É engraçado como temos a sensação de que a maior parte das pessoas não muda nada e olhamos para nós e achamo-nos tão diferentes daquilo que fomos. Abismalmente.
Mas voltemos ao dia em que te conheci. Alguns segundos (ou minutos, talvez, sei lá) depois de te teres sentado na nossa mesa dei por mim a pensar: Era capaz de me apaixonar por este gajo. Palavra por palavra. Juro. Lembro-me como se tivesse sido na semana passada. Ou melhor ainda. E já passaram anos. Acreditei naquele momento que era possível, provável até, apaixonar-me por ti. E assim foi. Passados uns meses, era impossível negar. Estava perdidamente apaixonada. E ainda hoje tu não sabes! Não fazes ideia. A não ser que algum fala-barato se tenha descosido. Mas acho que não. Foi uma paixão declaradamente secreta. Porque foi na mesma altura em que conheceste a mulher da tua vida. E não era eu.
O mais divertido é que simpatizei com ela! Era incapaz de odiar. Ainda sou. Bem sei que o poeta tem razão quando diz Que o ódio, infelizmente,/quando o clima é de horror,/é forma inteligente/de se morrer de amor.(*) Mas nestas coisas fui sempre um bocado estúpida. Tão esperta para umas coisas, tão burra para outras. Amar até à morte tudo bem, amar até ao ódio é que não. E talvez o meu amor não fosse assim tão grande. É que não cheguei a morrer. Limitei-me a renascer numa nova paixão. Mais forte ainda, confesso. Mas não fiques triste, as circunstâncias eram totalmente diferentes. E assim provei, sem deixar lugar para dúvidas, que se pode renascer sem se ter morrido antes. Parece parvo, mas faz todo o sentido.
E como gosto de ti, faço-te presente de um segredo. Quando se ama alguém de verdade, esse amor nunca chega a morrer. Só adormece. Cuidadinho, porque pode despertar a qualquer instante. É daquelas coisas inesperadas. E não me olhes assim, por favor. Fazes-me frio.


(*) António Gedeão, Amor sem tréguas

3 comentários:

ARN disse...

Cara Su...sei que não me devia ter metido neste cantito tão teu e de mais alguém (que não eu)! Mas não posso deixar de te dar os parabéns pela tua coragem! Coragem essa que de certo modo invejo... eu não consigo falar assim do amor, e se tentasse iria sair um caldo de difícil interpretação...às vezes acho que para mim o amor ainda é "um lugar estranho"... parabéns pela simplicidade e encanto destas palavras!bj, chefe raquel

Deb disse...

pequena ainda com um livro para me empestar ;),

é engraçado como diria justamente que temos a sensação que a maior parte das pessoas muda tanto ("estás tão diferente!...") e que nós continuamos iguais. Mas isso é porque, além de fútil, sou egoísta.

Quanto ao amor, subescrevo a Raquel, trata-se de um acto de coragem. E sabes?... Não era preciso ser um Amor até à morte, para que te lembrasses dele também até ao fim dos teus dias. Basta assim, que se sinta, que se abra, que se exprima, ainda que em segredo.

Aprendem mais aqueles que, primeiro, não foram correspondidos.

Ich liebe deinen Blog :D

p disse...

Amei! E feliz ou infelizmente compreendi tudo o que quiseste dizer por já ter experienciado algo semelhante.

Tu escreves mesmo bem, caramba. Quero um dia ter um livro teu na minha estante (assinado de preferência :p).

Beijinho *