terça-feira, 8 de maio de 2007

Sala de Espera

O tecto de estuque branco incomoda-me. Deixa-me nervosa. Querubins por entre motivos florais estendem-se sobre a minha cabeça. As brechas que denunciam a antiguidade, assim como as asas que começam a desvanecer-se, fazem-me recear que uma rosa ou um anjo me caia em cima testa. Não consigo perceber os gestos dos meninos gorduchos porque estão curvados (talvez sob o peso das asas brancas) e não têm mãos. Arrepia-me o ranger das tábuas de madeira envernizada, o verniz a disfarçar o desgaste do soalho, sem o esconder. O chão vibra com o vaivém dos automóveis lá fora. Tudo me parece apontar para uma calamidade. E no entanto, o sol entra à vontade pela janela de portadas de madeira abertas, também elas brancas, e aquece-me as costas. A sala devia ser acolhedora, com as suas cadeiras azuis almofadadas. Mas o tecto sem candeeiro perturba-me. Talvez seja apenas do meu nervosismo. Não devia ter bebido outro café.