segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Silêncio

no silêncio
em mim
não há portas nem janelas
não há entrada nem saída
não há espaço nem vazio
no meu silêncio
está o medo
e o ruído disfarçado
no meu silêncio
estão os gritos que não dei
e os que dei
para dentro
em silêncio
no silêncio
estão os segredos
no silêncio
está a magia
em silêncio
estão as palavras
que não acabam
e procuram desesperadamente por um fim
em silêncio
há tempestades
erupções
cataclismos
pequenos apocalipses
pequenos mundos que nascem e morrem todos os dias
em silêncio
em mim
silenciosamente
correm rios
às vezes secam
desabam montanhas
erguem-se cidades
escoam esgotos
apagam-se beatas em cinzeiros de vidro
silenciosos
no meu silêncio
está tudo o que não ouviste
e tudo o que imaginaste
em silêncio
no meu silêncio
morrem crianças
e outras nascem adultas
e eu sou todas
que é sempre a mesma
em silêncio
no meu silêncio
ninguém chora
porque as forças são brutais
e não se esgotam
mesmo em silêncio
sobrevivem sempre
no silêncio
explodem edifícios
apagam-se fogos
outros deixam-se arder
que o fogo purifica
pelo silêncio
em silêncio
faço sacrifícios
aos deuses e a mim
no meu silêncio
está a morte
e grande parte da vida
em silêncio
no meu silêncio
tenho um grande sorriso
e uma infinidade de bons sentimentos
como o ódio e o rancor
guardados
em silêncio
com a vergonha
sem grande pudor
em silêncio
estão as declarações grandiosas
os discursos
a sabedoria
o código que decifra a poesia
com que despejo
aqui
o meu silêncio
no silêncio
em silêncio