sábado, 15 de novembro de 2008

Titânia

O meu silêncio incomoda-te.
O meu olhar perturba-te.
A minha postura não é correcta.
Adoro o meu corpo mas raramente o exibo
e a minha anatomia intriga-te.
Mas o motivo é simples:
a humanidade em mim
repugna-me
e quero ser melhor do que isso.
Coloca-me num pedestal
e adora-me de longe.
Se te aproximas eu fujo.
Tenho barreiras de titânio em meu redor
e o meu medo assusta-te.
Sou feita de um estranho metal
e é isso que vês nos meus olhos.
Só isso,
metal.
Recua mais
e entra para trás dos olhos.
De qualquer modo,
já me estás embutido na retina.

domingo, 9 de novembro de 2008

Poema da Bicicleta

Sonhei que era pequenina
e estava numa floresta encantada
cheia de cores alegres e doces
e muitas pessoas pequeninas
como eu.
Andava de bicicleta
alegremente, entre elas,
como o meu pai me ensinou há muitos anos
quando me largou e deixou ir sozinha
sem rodinhas de apoio pela primeira vez,
e eu estava mesmo feliz.
Acordei por um instante
e quando voltei a sonhar
estava de volta à floresta
e ia continuar a brincar
mas desta vez
as árvores chegavam-me aos tornozelos
e eu ouvia os risos alegres e doces
por baixo de mim
sem que lhes pudesse chegar.
A bicicleta era demasiado pequena para o meu tamanho
e eu mal me podia equilibrar.
Cresci para fora do meu sonho
e já não podia fazer parte dele,
embora tentasse desesperadamente voltar,
e por isso comecei a chorar.
Chamei pelo meu pai
e disse-lhe que estava triste e tinha medo.
E ele respondeu-me:
"Ainda tens muito que pedalar."
Mas eu desisti antes de começar.