quinta-feira, 30 de março de 2006

Always late.

- Tudo por causa de certas e determinadas pessoas que chegam sempre atrasadas. Não é, minha menina?

- Quem me dera ser certa e determinada. Mas a verdade é que a incerteza e a hesitação reinam sobre mim. É por hesitar tanto que chego atrasada. Peço desculpa!

- Erm...

- Yah, eu sei. Não é todos os dias que se leva com uma resposta destas. Beware! As respostas inesperadas esperam-nos a cada esquina. Nunca se sabe quando se vai levar com uma.

- Pois...

- Nevermind. I rule. Though I'm always late.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Sou bué da estóica, disse eu um dia.

- Olá. Tenho muitos nomes, sabes? Hoje chamo-me Lídia. Sou a Lídia. Sou uma pagã triste, de flores no regaço. Triste porque nunca tive coragem de enlaçar a minha mão na tua. Que é como quem diz que nunca te convidei para tomar café. Achei que cedo a libertarias. Que não ias gostar da pressão dos meus dedos nos teus. Que dirias que não. Achei que custava menos ficar a ver a vida a passar. Como um comboio reservado do Metropolitano de Lisboa. Afinal e de facto, não é profissão para mim. E, na verdade, também não é o meu nome do meio. Aliás, digo-te mesmo. Merda para o estoicismo.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Dias chuvosos

Porque será que nos dias em que choro não posso sair à rua sem levar com uma chuva de piropos? É ridículo. Vai uma pessoa a sentir-se miserável e ainda tem de ouvir baboseiras daquelas. Não há direito! Será uma tentativa do Universo para me fazer sentir melhor? Lamento, mas se era essa a intenção, não dá lá grande resultado. Antes pelo contrário. Ainda me consegue deixar mais mal-disposta.
E quando estou naquele dark mood em que só me apetece ficar em casa enrolada no sofá, debaixo de uma manta, a ver filmes lindos e deprimentes, mas faço um esforço e vou sair para ver pessoas e me dizem Estás tão bonita hoje!! Não é que duvide da visão das pessoas, mas quando me sinto tão na merda, custa-me a acreditar. Daí que a resposta seja um Obrigada!... sumido e um sorriso amarelo. Não é timidez nem modéstia. É só descrença.
Isto tudo leva-me a chegar a uma conclusão. Porque depois de alguns anos de meditação sobre o assunto, cheguei sempre à mesma conclusão, é verdade. Talvez seja uma predisposição humana para achar bonito o que é triste. De ver beleza na melancolia. Se calhar a Maria Madalena nem era tão bonita quanto se pensa. Mas a vida infeliz dela pode ter-lhe conferido aquela aura de beldade tétrica. Assim uma mistura de sangue, lágrimas e beleza, em que umas se confundem com as outras. De outra forma não faz sentido acharmos um rosto contorcido, vermelho, inchado, de olhos, nariz e boca molhados de lágrimas, ranho e baba, belo em vez de grotesco.

segunda-feira, 20 de março de 2006

A História do Cão Azul


Era um cão com cara de gato. Tinha bigodes compridos e tudo. O pêlo cinzento, por vezes, parecia azul, talvez por causa da luz, o que fazia com que parecesse um cão de outro planeta. Isso e os olhos, que pareciam olhos de pessoa e faziam as pessoas que para lá olhavam arrepiar-se. Era um cão que ladrava como quem ri, uivava como quem chora e usava a cauda em forma de ponto de interrogação. Era um cão pançudo, que gostava de se espreguiçar ao sol, como um gato. Era um cão semeado; aparecia em todo o lado.
Para além das crianças, que achavam que ele era um extraterrestre, havia mais quem tivesse as suas teorias sobre o cão azul. Uns diziam que era um fantasma e assombrava as ruas. Outros achavam que era um demónio e dava azar a quem o visse. Outros ainda, diziam que dava sorte, porque era uma espécie de criatura mágica. Havia também quem dissesse que o cão era um anjo da guarda, um enviado dos céus para combater os maus e proteger os bons. Por último, pelo menos que se saiba, havia a teoria de que era uma pessoa reincarnada, por causa dos olhos. Nada de novo, portanto. Claro que no meio disto tudo, quem estava mais perto da verdade eram as crianças. Como sempre, aliás. Afinal, era um cão que se portava como quem não sabia nada e estava a descobrir tudo pela primeira vez. E pela forma como investigava minuciosamente todos os recantos, enfiando o seu nariz húmido e rosado, como os dos gatos, em todos os lugares onde conseguia chegar; bem que podia ter sido enviado de uma estrela distante para estudar o planeta Terra.
Era um cão que gostava de brincar. E que comia flores. Era um cão especial porque não tinha dono. Era livre e era selvagem como um lobo, mas era meigo como um gato de estimação. Era um cão que gostava de lamber as mãos às crianças e tinha uma língua áspera como as dos gatos, que fazia cócegas.
Andava uma noite a brincar com um pirilampo. Uma luzinha pequenina e amarela que piscava e brilhava no meio da escuridão. O cão ouvia o seu riso pequenino e achava que era uma fada. Porque até os cães sabem fantasiar. Pelo menos aquele sabia. Tentava tocar na luzinha com a sua pata azul, levantando-a à altura do seu focinho pontiagudo, como fazem os gatos quando brincam. Mas a luzinha do pirilampo era tão pequenina, tão pequenina, que o carro vermelho não a viu. E na manhã seguinte, a rua ficou mais triste, porque o pêlo fofo do cão era apenas cinzento. Tinha-se acabado o azul. E a língua áspera pendia-lhe inerte por entre os dentes afiados que costumavam morder as flores. Sem vida. Sem azul.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Ser ou não ser?

Nunca fui capaz de definir muito bem se sou uma optimista ou uma pessimista. Há muito tempo que sou fiel ao princípio de esperar sempre o melhor estando preparada para o pior. Lá está! A tal história do hipotético e do relativo. Ou não tivesse este blogue o título que tem! Nunca se sabe. Prefiro concentrar-me em encontrar as perguntas certas que em procurar respostas. Acho que as respostas é que, mais tarde ou mais cedo, acabam por me encontrar a mim. Mas para as compreender tenho de estar preparada para elas. E que melhor forma de estar preparada para o abalo das respostas do que tendo as questões possíveis já imaginadas? Assim talvez não precise de me sentar, e respirar fundo seja o suficiente. Este é um dos motivos porque o Shakespeare e o Sérgio Godinho são importantes para mim. (*)

Hoje apercebi-me de uma coisa. E é tão óbvio, tão óbvio, que me senti estúpida por só agora ter dado forma a esta ideia, ou sentimento, ou seja lá o que puder ser. Tudo junto, se calhar. Às vezes ponho-me a sofrer por antecipação. Pronto, muitas vezes. Mas a verdade é que não é por estar preparada para o pior que se o pior acontecer vai doer menos. Talvez até, por acumulação, doa mais. Acaba por ser tudo um pouco inútil. Só vale a pena prever o pior se fizer alguma coisa para o impedir. E se estiver fora do meu alcance, se for algo de inevitável, caso se concretize, há tempo de sobra para lamentá-lo.
Enquanto só existe a dúvida, o melhor é ser feliz, antes que chegue a certeza. Senão nunca podia sorrir.

E neste momento, apesar de ter medo do que possa vir aí, e porque se trata de uma daquelas hipóteses que me deixam impotente, de mãos atadas contra a vida, não posso deixar de sorrir. Porque a esperança é maior do que tudo. E porque se calhar ninguém acredita tanto como eu. Que vai correr tudo bem. Ou talvez seja apenas ingenuidade minha. Infantilidade até. Mas a verdade é que enquanto os vejo todos de rosto fechado e olhos húmidos (porque é que ninguém fala?), vejo-me a mim no meio, de sorriso nos lábios, voz alegre e palavras leves, e sinto-me ridícula. Porque também tenho o coração apertado e vontade de chorar. Provavelmente julgam-me insensível, indiferente, ou pior, julgam-me tola. Mas não me importo, porque se calhar assim não lhes peso no coração.




(*)

Ser ou não ser gente
ter ou não ter sonhos
mais exactamente
vir
à tona dos sonhos
Ter sempre a certeza das dúvidas
por via das dúvidas saber o que achar
(...)

Ser ou não ser, Sérgio Godinho



To be, or not to be: that is the question
[...]to die to sleep!
To sleep, perchance to dream, ay there's the rub,
For in that sleep of death what dreams may come

Hamlet, William Shakespeare

sexta-feira, 10 de março de 2006

Ando a ouvir vozes!

É o mundo inteiro que me grita que saia! Que vá viajar! Que me faz querer alargar os horizontes!
Tenho recebido sinais claros e óbvios. O Universo anda a enviar-me mensagens explícitas. Primeiro foi quando vi A Residência Espanhola. Como dizer? Era, claramente, uma indirecta para eu ir de Erasmus e tornar-me escritora. Faz sentido. Às tantas podia viver uma aventura marada que desse um livro. Se bem que o verdadeiro artista é aquele que cria algo de belo que não tenha nada de autobiográfico. Como o Oscar Wilde. Mas para isso acho que ainda tenho de crescer mais um bocadito. Ainda sou demasiado egocêntrica para não escrever sobre mim. Ainda estou demasiado fascinada pela própria vivência.
Mas como eu ia dizendo, os sinais cósmicos. Depois do filme, foi a despedida no aeroporto. Fui dizer até daqui a uns meses aos três demónios que foram de Erasmus para Siena, Itália. Que vontade de ir com elas! Foi aí que comecei a decidir, assim à doida, ir também à aventura. E depois também havia os outros três caramelos que foram para Torino. E a M.J. a contar-me as maluqueiras da Bélgica, no semestre passado. E o John a dizer que vai para a Finlândia.
E depois outro filme. Ou melhor, outros dois. Vi o Before Sunrise e o Before Sunset seguidinhos, assim de shot, e foi a gota de água. O romantismo é aquela cena, não consigo resistir! E ainda por cima o Jesse também escreve um livro! Já começam a ser demasiados iscos para eu não morder nenhum. E agora é o meu caloiro que vai passear a NYC com a Ju, os dois assim à parvalhão! A inveja é um sentimento muito feio, yo, mas eu nunca fui uma menina bonita, ye.
Erasmus. Parece-me bem. Acima de tudo é preciso reunir coragem para ficar longe durante cinco ou seis meses. Basta não dar parte de fraca e eu sou perita em armar-me em forte! É isso. Está decidido! Quase decidido, que isto do definitivo não combina muito comigo. Eu sou mais da equipa do hipotético e do relativo. Mas é bom fazer planos! Siga lá!


Um forte abraço aos aventureiros intrépidos que estão ausentes,
e uma palmadinha nas costas aos que, como eu, o pretendem ser também.

Aos restantes, as minhas saudações amigáveis.
Até breve! ;)



P.S. - Qual semestre! Vou um ano!!
P.P.S. - Alemanhaaaaaaa!

sexta-feira, 3 de março de 2006

A pensar morreu um burro.

E de repente, nasce-me uma vontade de fazer tudo!
De ouvir todas as músicas que há para ouvir, de ler todos os livros que há para ler, de ver todos os filmes que há para ver. De tirar fotografias a tudo e a todos para nunca me esquecer de nada nem de ninguém. De escrever todas as palavras, todas as ideias, para não deixar fugir nenhuma. De gravar todos os risos e todas as vozes à minha volta porque são tão bonitos e queria poder ouvi-los sempre.

E olho em meu redor.

Estou num quarto onde reina o caos e a confusão porque nunca tenho tempo de o arrumar. Proliferam os cadernos vazios e ainda a cheirar a novo em que nunca tive tempo de escrever. Tenho um livro na secretária, à espera que eu lhe volte a pegar. Já está à espera há quase um mês. E tantos outros na prateleira à espera de vez. Tenho um computador cheio de músicas que nunca ouvi e tão cedo não vou ouvir. Porque não tenho tempo. Tenho molduras vazias porque nunca tive tempo de as encher de fotografias. Na rua, lá em baixo, aqui ao lado, tenho um clube de vídeo do qual nunca me fiz sócia. E tive tanto tempo...

Estava sentada no sofá a pensar. Só a pensar. O cérebro fervilha-me de ideias, desejos, recordações. De palavras. E deixo-me estar assim, a pensar. A vida toda assim. Desde sempre ou há mais tempo do que me consigo lembrar.
Penso demais. Às vezes dou por mim a pensar que penso demais.
Vou sair para comprar mais um livro! E penso pelo caminho.