quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Berlin Blues

I met you some night in Berlin
You were holding a bottle of gin
You said to me: "This is the best.
C'mon, try it. Put my word to test."

And then, little, oh, little did I know
That by next morning's morning snow
I'd have already tasted you
And that's why my gin now tastes blue.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Poema das mulheres que sabem o que querem


No instante em que pousaste os olhos em mim
durante mais tempo do que terias coragem se estivesses sóbrio
eu soube que me querias
e achei a ideia divertida
como sempre acho quando me sinto desejada.
Mas tenho vindo a pensar no formato dos teus olhos
e como eles se abriram mais ao ouvir-me falar
e no tom exacto da tua pele
que me parece difícil definir
com outra ideia que não seja as pontas dos meus dedos a deslizar pelo teu pescoço
mas isso não é uma cor
e nem sequer te toquei senão ao de leve
e ainda nem consegui desviar os meus olhos para as tuas mãos.
E pensei também em como não soubeste manter a devida distância
e como eu tive medo de estar tão perto
como uma espécie de claustrofobia
da falta de espaço entre mim e ti
e das paredes tão distantes
e mesmo assim a apertarem-nos um contra o outro
e mesmo assim eu a não te querer afastar.
E continuar a sorrir para ti e a contar-te as minhas histórias
com a ligeira sensação de que não ouvias nada a não ser a cor do meu baton.
E de todos os homens que se aproximam discretamente
para sentir o meu perfume um pouco melhor
ou que encostam os lábios ao meu ouvido
sob o pretexto de me quererem dizer coisas mais importantes do que a música
ou que simplesmente me pedem beijos ou o meu amor,
foi a ti que os meus olhos procuraram
quando varreram a sala à minha entrada.
E assim que percebi que o fiz,
também percebi que já te escolhi.
É a ti que quero agora.

sábado, 10 de novembro de 2012

poema dos tubarões


parece-me desleal ser infeliz
enquanto tanto amor me rodeia
tanto me é oferecido
mas com todo este amor
sinto-me debaixo de água
os tubarões sentem o cheiro a sangue
e todos querem o seu pedaço
enquanto estou vulnerável
enquanto resta alguma coisa do que eu tive para dar

mas eu nunca mais vou fraquejar
nunca mais vou mergulhar tão fundo que fique sem ar
nunca mais vou acreditar em amor nenhum
que não seja o meu
nunca mais vou confiar em coração nenhum
que não seja o meu
apenas eu sou pura, apenas o meu amor é verdadeiro
todos os humanos são hipócritas e voláteis
menos eu
todos os humanos são cobardes e preguiçosos
menos eu

eu sou sobre-humana
os meus poderes são invencíveis
o meu amor é invencível e infindável
e por isso nunca hei-de morrer para sempre
antes, hei-de amar para sempre
sem nunca acreditar em mais nada
senão nisso
que o meu coração é imortal
e que os tubarões nunca vão beber do meu sangue
nem comer da minha carne
porque eu nunca mais hei-de fraquejar
e que eu hei-de ser minha até ao fim
e de mais ninguém senão de férias.

não importa o que se vê.
nem sequer importa o que se lê.
sou magnânima mas implacável.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Poema da imolação


Não sabia que se podia estar em chamas de dor.
Pensei que o fogo estava reservado ao amor.
Pensei que o desgosto queimava como o gelo queima
que era o coração do avesso e lágrimas frias.
Mas este fogo é quente.
Imolo-me e é uma sensação diferente.
Suponho que nunca se morra da mesma maneira.
Desta vez bebi o nosso vinho em celebrações,
em festejos de mais uma morte que passou
(passou por mim, atravessou-me).
Celebro a minha morte
e enquanto choro, rio-me de mim,
rio aos soluços.
E sinto-me impossível.
Sou um ser impossível.
É impossível ser eu.
Existo por fora de mim
e vejo-me chorar enquanto sufoco no meu próprio riso.
Não sei o que dizer a mim própria
mas falo incessantemente.
Digo coisas bonitas e coisas horríveis.
A frio e a quente.
E ainda me falta a coragem para as oficializar escrevendo-as.
E entre tudo isto,
nunca o meu silêncio foi tão eloquente.
E o “tudo isto” há-de passar.
Mas quando se ama sabe-se que há uma condição única para amar:
é que o amor seja para sempre.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

História de caminhar sobre nuvens.


O caminhar sobre as nuvens assusta-me porque qualquer passo em falso é a queda para o infinito. O vapor de água que respiro enche-me os pulmões com um cheiro diferente do que estou habituada. Um cheiro bonito. Cheira a sonhos longínquos, sonhados apenas dentro de sonhos, porque nunca ousei sonhá-los acordada. E agora sinto-lhes o cheiro. Mas o vapor de água também me tolda a vista, já de si tão fraca, já de si tão idosa, que por ver tão mal, vê sempre mais do seria expectável. E eu vejo nos sonhos com as mãos e com o cabelo, principalmente, mas vejo também com o resto do corpo todo, porque os meus olhos não prestam e são um mero artifício estético. Por isso guio-me pelo resto, enquanto caminho a medo sobre as nuvens. No percurso desmapeado, a ausência de horizonte conspira com o excesso da pressão atmosférica para me comprimir o peito. Para comprimir os órgãos que vivem dentro do meu peito, em convivência difícil. Os meus órgãos invejam-se uns aos outros porque todos gostavam de experimentar sentir o que os outros sentem e só eu posso sentir tudo porque é só a mim que tudo isto pertence, soberana, tirana das minhas vísceras rebeliosas. O que todas elas sentem, o que carregam em comum, é o medo de mim e dos meus sonhos.

Precipitei-me. Precipitei-me sobre o mundo e sobre os homens. E varro tudo à minha passagem. Sou o fim e o princípio de tudo, quando quero, se quiser. Da forma como acabei, recomeço. Entre a chuva.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Antílope II


Sinto nos músculos das pernas
um frémito que me lembra a vida
como réplicas eternas
do entrar sempre de fugida.

Sinto nos olhos o frio do vento
e nas mãos a erva húmida
descubro o peito crú ao relento
aguardando o fim da corrida.

Sinto no ventre as presas do meu predador
rasgada como um antílope
não morto mas em estertor
no chão que ainda treme do galope.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Do amor, das palavras e do poder.

Andava há semanas a meditar no poder de destruição das palavras. Andava a pensar que se te dissesse que te amava tu ganhavas o poder de me destruíres. E que, de alguma forma, se eu me mantivesse calada, o silêncio me protegeria. Sempre me movi pelo medo. Raramente contrariei este instinto cobarde. E agora descubro que me iludia propositadamente. Eu sempre soube que o verdadeiro poder não está nas palavras mas naquilo que as move. O que te deu o poder de me destruíres foi o facto de eu te amar, independentemente de o ter dito ou não. E também sei que quando eu te olhava nos olhos e pensava no quanto te amava tu sabias que era isso que eu estava a dizer com os olhos. E, ciente do poder que tinhas, soubeste que a única coisa que podias fazer com ele era precisamente destruir-me. Porque não me podias devolver esse poder e também não o podias guardar impunemente. Restou a única opção. E assim, tão facilmente, morri às tuas mãos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

desconcentrismo

o frio que tornava as minhas noites mais sós
e a minha cama demasiado grande para estar vazia
começa a recuar
aproxima-se o solstício
o calor vai-se insinuando nos meus dias
e a roupa torna-se escassa
e os tecidos tornam-se leves sobre a minha pele
estou cada vez mais nua
e a ausência dos teus olhos sobre as minhas coxas
mal cobertas por flores coloridas que esvoaçam
e tecidos que escorregam contra a gravidade
torna-se evidente demais
e insuportável
dispensava qualquer ajuste climático
as estações do ano deixaram de ser importantes
equinócios e solstícios significam apenas o passar do tempo
sem que nada altere o meu desejo
de que o tempo e o espaço se confundam
e uma vez mais deixem de ter significado
por estar no centro dos teus braços
no centro do teu corpo
no centro de ti

sábado, 5 de maio de 2012

Poema da boa menina

Tão boa menina.
Das coisas mundanas não só nunca estraga nada
como conserta tudo com mãozinha prendada.
E nunca, nunca desatina.

Nos dias em que, desconcentrada,
se desvia e lhe escapa a atenção
espalha-se em seu redor um círculo de destruição
e ela, aflita, deixa cair o coração na estrada.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Poema do paradoxo verdadeiro


O exercício mental do sonho pragmático
é o meu alimento.
Talvez porque saiba lidar bem com a desilusão à força do hábito,
ou talvez o hábito surja por insistir em iludir-me tanto.
As coisas simples são puros fascínios
talvez porque nunca tenham integrado nenhuns dos meus desígnios.
Mas é o complicado que me apaixona,
o complicado desintegra-me
e a ele me entrego porque faz parte de mim.
Talvez por isso me sinta em casa quando estou triste.
Ou então fico triste quando estou em casa.
Seja como for, é assim.
No fundo, talvez seja a mesma coisa
e apenas eu que o complique
de tanto me querer apaixonada.
É uma espécie de cinismo romântico que nunca repousa
esta coisa de compreender perfeitamente o que sinto
e de o explicar até à exaustão
como enigmas tantas vezes decifrados e de novo recodificados.
Ouso ordenar os meus contrários em turbilhão.
Proclamo os meus segredos
a fingir que são a maior verdade de todas,
cada um deles a maior,
e consigo acreditar que são
porque sou mestre de mim própria.
Acredito nas ideias que inventei delirar
e coloco-lhes rótulos impensáveis
e organizo-as, cada uma em sua secção.
E posso pegar em tudo o que digo e invertê-lo
e é tudo verdade na mesma.
E mesmo entre bruma, consigo vê-lo.
É verdade. Eu não minto.
Na minha cabeça cabe tudo
e não há nada que eu não devore
sem precisar sequer de desapertar o cinto.
A minha fome nunca dorme,
é a única forma de me manter saciada.
É que o que quero é o querer em si,
mais nada.
E este amor ficcionado
por anti-heróis verdadeiros, a sério
é o que me traz a este inferno reservado,
é o que alimenta o meu mistério.
O chão é verdadeiro e fixo
mas o meu andar é sonhado.

terça-feira, 3 de abril de 2012

jovem enamorada de livro no regaço

a aparência pacífica
é simples inquietação encapotada
de sentir pensamentos
que crê perenes
apenas para perecerem
instantes depois
num ápice prolongado
de puro prazer pedante
que ao provar reprova
a si própria desprezando

terça-feira, 20 de março de 2012

poema de teres coração

pergunto-me sempre que te surpreendo
a temperatura do olhar
quantos corações te restam
quanto és capaz de suportar

não te cansa?
não te dói?

devias ter ficado pela primeira dança

não sei o que fiz para merecer
tantas oportunidades de te amar

não entendo porque queres voltar a provar
desta minha morte
porque me escolhes para acumular
à tua má sorte

estive sempre certa
de que podia viver sem ti
mas não foi grande descoberta
saber que errei quando fugi

sempre me foste irresistível
mas é natural que nunca o soubesses
porque sempre te resisti.

nunca quis mudar nenhuma pessoa
nem quis que ninguém fosse diferente
e por mais que me doa
sempre os amei completamente

e nunca ninguém me falhou
porque eu soube sempre esperar o pior
e quem me amou ou não amou
para meu grande consolo
serviu-me sempre bem dessa dor
e deixou-me sempre no controlo

isto dá-me segurança

o meu problema contigo
e com os teus corações infinitos
é que sempre me deste esperança

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ups! ou Como Saber das Coisas

"Se não tens cuidado ainda te faço feliz."

Já estive nos dois lados desta frase.
Sei tudo o que há para saber sobre o amor.

ou

"Se não tens tido cuidado ainda te fazia feliz."

Já estive nos dois lados desta frase.
Sei tudo o que há para saber sobre a amargura.

quinta-feira, 1 de março de 2012

o mantra dos amantes

por pouco que seja eloquente
balbuciado entre ais
“gosto muito, gosto para sempre
mas não quero, não quero nunca mais”

a distância entre o desejar e o querer
está na pequena decisão
está em escolher
a quem se entrega o coração

de entre tanto que se gosta
não se pode querer tudo
e deposita-se a aposta
e penhora-se o veludo

se nos calha em sorte
o abandono amoroso
essa espécie de morte
esse estado glorioso

repete-se o mantra
até à exaustão palavrosa
até ao momento em que se encontra
qualquer ideia mais ambiciosa

que o esquecimento
em si é pouco
não me basta um momento
não me chega um amor rouco