sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Poema da imolação


Não sabia que se podia estar em chamas de dor.
Pensei que o fogo estava reservado ao amor.
Pensei que o desgosto queimava como o gelo queima
que era o coração do avesso e lágrimas frias.
Mas este fogo é quente.
Imolo-me e é uma sensação diferente.
Suponho que nunca se morra da mesma maneira.
Desta vez bebi o nosso vinho em celebrações,
em festejos de mais uma morte que passou
(passou por mim, atravessou-me).
Celebro a minha morte
e enquanto choro, rio-me de mim,
rio aos soluços.
E sinto-me impossível.
Sou um ser impossível.
É impossível ser eu.
Existo por fora de mim
e vejo-me chorar enquanto sufoco no meu próprio riso.
Não sei o que dizer a mim própria
mas falo incessantemente.
Digo coisas bonitas e coisas horríveis.
A frio e a quente.
E ainda me falta a coragem para as oficializar escrevendo-as.
E entre tudo isto,
nunca o meu silêncio foi tão eloquente.
E o “tudo isto” há-de passar.
Mas quando se ama sabe-se que há uma condição única para amar:
é que o amor seja para sempre.

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