Sentia que carregava o peso do mundo sobre os ombros. Há pessoas assim. Parece exagero, eu sei. Mas é uma hipérbole bonita.
Preferia sofrer por si, numa divisão mal iluminada, que ver os outros sofrer. Ou que fazer sofrer os outros. Parecia-lhe que o seu era um sofrimento menor. Menos importante. Ou então achava-se mais capaz de lidar com a dor que qualquer outra pessoa no mundo. Não sei. Talvez fosse hábito. Mas não, é impossível alguém habituar-se a sofrer. Seria demasiado triste. Como se tomasse analgésicos para a vida. Ninguém deve estar assim tão anestesiado. Talvez seja preferível sofrer vezes sem conta como se fosse sempre a primeira. Como se todas as dores fossem uma dor nova. Porque são. Mesmo que lhe sejam familiares.
Era aquele sentimento de responsabilidade e aquela necessidade de proteger que motivavam as suas escolhas. Ou talvez não fosse tudo altruísmo. Talvez a dor se transformasse no seu vício. Um vício privado e oculto, quem sabe se até de si mesmo. Mas prefiro pensar que era altruísmo aquela apetência pelo sofrimento. Nada de masoquismos. Apenas um coração demasiado grande para caber no peito, intacto. E talvez fosse por isso que sonhava todas as noites com ataques de tosse violenta que lhe faziam cuspir aos poucos os pedaços sangrentos do seu coração despedaçado. Sonho sanguinolento mas com o seu quê de poético. E nem uma gota de desespero maculava a poça vermelha que se formava todas as noites a seus pés. Em sonhos. Somente uma resignação adocicada que não confundia com conformismo. Resignava-se a esperar. Era o que bastava. Porque enquanto lhe pulsassem as veias, ressoar-lhe-ia nos ouvidos a esperança. Esperança de que um dia não lhe fosse dado a escolher entre o sofrimento de ninguém. E que a felicidade pudesse ser repartida. Sem nenhuma espécie de desiquilíbrio. Que o sangue da balança coagulasse e fosse limpo. Que a balança não fosse mais precisa. Que finalmente o mundo entrasse nos eixos e deixasse de lhe pesar nos ombros. E que acabassem as lágrimas, sem terem necessariamente de secar.
Há pessoas assim...
Preferia sofrer por si, numa divisão mal iluminada, que ver os outros sofrer. Ou que fazer sofrer os outros. Parecia-lhe que o seu era um sofrimento menor. Menos importante. Ou então achava-se mais capaz de lidar com a dor que qualquer outra pessoa no mundo. Não sei. Talvez fosse hábito. Mas não, é impossível alguém habituar-se a sofrer. Seria demasiado triste. Como se tomasse analgésicos para a vida. Ninguém deve estar assim tão anestesiado. Talvez seja preferível sofrer vezes sem conta como se fosse sempre a primeira. Como se todas as dores fossem uma dor nova. Porque são. Mesmo que lhe sejam familiares.
Era aquele sentimento de responsabilidade e aquela necessidade de proteger que motivavam as suas escolhas. Ou talvez não fosse tudo altruísmo. Talvez a dor se transformasse no seu vício. Um vício privado e oculto, quem sabe se até de si mesmo. Mas prefiro pensar que era altruísmo aquela apetência pelo sofrimento. Nada de masoquismos. Apenas um coração demasiado grande para caber no peito, intacto. E talvez fosse por isso que sonhava todas as noites com ataques de tosse violenta que lhe faziam cuspir aos poucos os pedaços sangrentos do seu coração despedaçado. Sonho sanguinolento mas com o seu quê de poético. E nem uma gota de desespero maculava a poça vermelha que se formava todas as noites a seus pés. Em sonhos. Somente uma resignação adocicada que não confundia com conformismo. Resignava-se a esperar. Era o que bastava. Porque enquanto lhe pulsassem as veias, ressoar-lhe-ia nos ouvidos a esperança. Esperança de que um dia não lhe fosse dado a escolher entre o sofrimento de ninguém. E que a felicidade pudesse ser repartida. Sem nenhuma espécie de desiquilíbrio. Que o sangue da balança coagulasse e fosse limpo. Que a balança não fosse mais precisa. Que finalmente o mundo entrasse nos eixos e deixasse de lhe pesar nos ombros. E que acabassem as lágrimas, sem terem necessariamente de secar.
Há pessoas assim...
1 comentário:
"E talvez fosse por isso que sonhava todas as noites com ataques de tosse violenta que lhe faziam cuspir aos poucos os pedaços sangrentos do seu coração despedaçado."
Lindo...todo o impacto possível numa metáfora perfeita! Porque são estes os versos que me deixam sem fôlego e me dão prazer em ler. Como é bom ler-te!:)
Beijo saudoso*
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