terça-feira, 2 de setembro de 2008
Poema de um abrir e fechar de olhos.
aumenta
a cada breve troca de palavras.
O tom ruborizado da minha face
adensa-se
a cada subtil troca de olhares.
Se me tocas ao de leve, sem querer,
tremo.
Se me tocas de propósito,
petrifico.
(Fecha os olhos. Abre os olhos.
Fecha-os outra vez. Volta a abri-los.)
A cada nova palavra
que pronuncias
procuro descobrir o teu interesse
mas tu nunca te denuncias...
Como se eu já não soubesse.
A cada nova palavra
que te dirijo
camuflo as minhas paixões
como se os verbos fossem esconderijos.
Sei bem o que me espera:
desilusões.]
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Uma história de nada.
sábado, 26 de julho de 2008
Nunca estamos sós (We’re never alone)
O riso mais feliz foi o que repeti de todas as vezes em que rimos juntos. As lágrimas mais tristes foram as que não precisei de vos esconder. As palavras mais amargas foram as que pude balbuciar porque me ouviam em silêncio. Os gestos mais sinceros foram os que não precisaram de significado para vos dizer alguma coisa. O tempo mais útil foi o que ocupámos sem fazer nada em conjunto. Os dias mais importantes foram os que passei convosco e já não me lembro porque não é preciso para saber que foram bons. As pessoas mais bonitas são as que me fazem sentir falta de mim como sou quando estamos juntos. A solidão mais profunda é aquela que a vossa mera existência arranca de mim.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Respira o meu sol
enquanto não começo a chover.
As ruínas estão tranquilas
e o pó que eu não limpava
assentou.
Houve momentos em que não senti necessidade de mentir
para me acalmar.
A tua respiração suave bastava-me.
Era no cabelo que tinhas o barulho do vento.
Sem nenhuma tempestade,
sem sequer precisar de chover,
parou.
Está silêncio, mas não fiques para ouvir.
Sol em mim.
E de súbito uma rajada de vento mais forte obrigou-me a fechar os olhos pois nem os óculos eram o suficiente para os proteger. Senti algo a embater no meu peito e a cair-me no colo. Abri os olhos de novo e peguei-lhe. Fiz girar entre os dedos o pequeno objecto quadrado e cinzento e soltei uma gargalhada. Uma tecla de computador: o número um e o ponto de exclamação. Trauteei para dentro: Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! No bom sentido é claro. Porque os sinais que me batem no peito só significam aquilo que eu quiser. O significado altera-se mas o sol está mais quente.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Sidewalk
i couldn't tell my feet were moving
until i stopped
no need to think
but still i do
i keep following the same path,
the path to you
everytime
i bump into the same people
everyday
i trip over the the same stones
i kick them and keep walking
till i can't breathe
i walk the ways of my mistakes
i know it's the only way
i move out of the dark
and still can't see a thing
you can't see me either
though i don't hide
and i'm right here
walking by your side.
segunda-feira, 10 de março de 2008
História de ir dormir.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Mar verde como relva verde como mar
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Bicho de sete cabeças.
Sou um bicho de sete cabeças. Todas servem para pensar. Não, sete não. Mais. Ainda há mais. Nunca tem fim. Não vai acabar. Não há espada que mate este estar. Vou ficando. A manhã acabou de raiar. À minha volta todos dormem. Sento-me na varanda. Subo o parapeito, pés no telhado. A luz não me incomoda, mesmo acabada de acordar. Deixo a pele do rosto absorver os raios de sol. Fumo um cigarro enquanto penso. E trauteio uma canção. Baixinho, porque gosto do mundo adormecido. Penso na tua beleza e espero que não tenhas noção. Porque é assustadora e tu pareces ter os pés assentes no chão. Lembras-te dos teus sonhos quando acordas? Hoje lembrei-me de ti. Desculpa, queria dizer que não me esqueci.
domingo, 20 de janeiro de 2008
É isto que sinto no meu labirinto.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Bem-vindo, viajante.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
With great power comes great responsability, já dizia o tio Ben.
Nunca ninguém me disse que o mundo é bonito, fui eu que decidi. Fui eu que fiz os meus filtros. Ninguém precisou de me ensinar a sorrir. Sempre me deixaram escolher. Eu escolhi quando trocar de direcção. Eu escolhi quando voltar atrás. Eu escolhi quando parar. Eu escolhi quando sonhar. Eu escolhi o que era para sempre e o que tinha de acabar. Fui eu em tudo. Estive sempre de olhos abertos sem me dar ao luxo de pestanejar porque assim o quis. E quando o peso da responsabilidade foi tanto que me senti esmagar também gatinhei, rastejei um pouco até. Que me importa esfolar os joelhos ou sujar as palmas das mãos? Depois passa. Já passou. Está a passar agora mesmo enquanto escrevo. Sim, o poder é meu e é grande. Sinto os meus nervos esticar. Não tenho limites. Se quiser posso voar. Mas não quero. Não. Gosto da minha calma e nem costumo arrastar os pés. Mas se for preciso arrasto. E se for preciso choro e faço doer. E dói e arranha a garganta quando grito. Mas grito se tiver de ser.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Fim
apenas para aquecerem as tuas.
As minhas mãos existem
apenas para se enlaçarem nas tuas.
Tenho lábios apenas para que exista
a possibilidade de te beijar.
Cada centímetro da minha pele
tem como único propósito
ser tocado por ti.
Os meus pulmões só funcionam
para eu sentir o teu cheiro.
Os meus olhos vêm somente na tua direcção.
O prazer que me dá a minha beleza
é o que tu sentes quando me vês.
A única utilidade dos meus pés
é caminharem até onde tu estiveres.
Deixo de existir quando não estás.
A cada coisa sua finalidade:
Tu és o fim de tudo o que eu sou.
sábado, 13 de outubro de 2007
Choras entre dentes
respiras devagar
vejo-te chorar
e sei que tremes quando mentes.
Passas a língua nos dentes
cheiras o ar
ouço-te silvar
e não acredito no que pensas que sentes.
Ranges os dentes
choras a dormir
sem te lembrares no dia a seguir
e nem eu deixo que tu tentes.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Pequenos deuses
que se adora apenas
a si mesmo
esperando o dia
em que poderá adorar,
talvez,
outro alguém.
Os seus filhos, talvez.
Pequenos rebentos de Narciso,
rebentos de mais ninguém,
pequenos deuses
de nariz redondo
e olhos macios.
Então, ele será Zeus
e eles serão
os seus pequenos
Hermes, Afrodite
e Zagreus.
Por ora, espera.
Espera pela Hera,
que não passa ainda de um rebento
também,
espera que lhe cresçam as folhas
verdes e persistentes
e os cabelos castanhos.
Espera
que ela o envolva com os seus braços ondulantes
delgados e flexíveis
que lhe aperte o peito
e lhe corte a respiração
que lhe aperte a garganta
e lhe faça perder a voz
que lhe aperte a cabeça
e o faça perdê-la.
Que o aperte até deixar de se sentir
para além da pulsação
como se fosse uma massa de sangue apenas
flutuando
centímetros acima do chão.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Eu sei.
Sei tanto, tanto, tanto.
Mas dou por mim ainda a fazer as mesmas perguntas, numa repetição exaustiva. Incansavelmente. Porque é que há tanto tempo atrás, da última vez, engoli a poção da invisibilidade para não me veres tremer, para não me veres deitar no chão, para não me veres cair, para não me veres gritar, para não me veres arrastar os pés em silêncio, para não me veres fugir outra vez, para não me veres esconder as lágrimas, para quê? Ainda conheço a tua nuca mas mesmo quando sei que não és tu permito-me duvidar por uns instantes, embriagando-me no prazer culpado que a tua presença fantasma me traz. Porquê? Leio as cartas que nunca chegaste a enviar. Ouço as palavras que nunca cheguei a dizer. Repito-as baixinho ou para dentro, conforme estou sozinha ou não. Para quê? Pergunto-me se ainda tens a mesma maneira de sentir, a mesma maneira de olhar. Ainda somos iguais? Ou já mudámos demasiado? Os rumos podem ser assim tão cruéis com a essência? Porque não me calo por dentro como por fora? Ou porque não falo do que sinto? Porque não te faço lembrar? Ou porque não esqueço também? Eu sei... É o meu castigo. Há-de durar tão para sempre quanto eu.
Estamos mortos há tanto tempo mas nunca parámos de ressuscitar sem que no entanto estejamos alguma vez realmente vivos. Está tudo na minha cabeça, eu sei.
Nunca tive dúvidas no que te diz respeito. Bastou a primeira palavra para saber.
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Silêncio, Escuridão, E Mais Nada.
E mais nada.
quinta-feira, 14 de junho de 2007
A Prata da Casa
Esta fragilidade oprimia-me. Constrangia-me. Não sabia o que lhe havia de fazer. Onde o colocar. Como lhe tocar. Ou deixar que lhe tocassem, mesmo ao de leve. Ou se confiá-lo a alguém merecedor. Se tal existia. Era preciso dar-lhe um rumo. Arrumá-lo.
E um dia a resposta chegou. Fi-lo atravessar uma corrente de prata e prendi-a em volta do pescoço. Agora pende-me sobre o peito e dali não mais sairá. Está seguro, até que eu o perca, como perco às vezes a cabeça, ou até que a corrente se parta. Aqui fica o meu coração de prata.
terça-feira, 8 de maio de 2007
Sala de Espera
quarta-feira, 28 de março de 2007
Uma fonte no deserto.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Para a Finlândia, com amor.
Tão longe que estava agora. Teria algum dia percebido verdadeiramente o seu valor? A importância desmedida que tinha para umas quantas almas perdidas? A forma como quase sempre dizia a coisa certa na altura certa? E como sabia pedir desculpa na altura certa se dizia a coisa errada. Se por vezes usava o orgulho como escudo, quase sempre sabia ceder à humildade. Rapaz de gestos exuberantes e olhar tímido. Homem de palavras sábias e pensamentos puros. Hesitante na expressão das emoções apaixonadas. Cheio de contradições, como uma verdadeira pessoa, e sempre tão certo, como mito a idolatrar.
Os adjectivos abundam, cansativamente. Para quê desenhar em palavras aquilo que apenas se sente? É tão mais difícil que um abraço. Mas se o corpo não está presente, é preciso abraçá-lo com verbos.
Deixaste para trás um vazio tão grande, tão grande, tão grande, tão grande… Não há nada que o possa preencher. Nem cartas de nove páginas que façam chorar, nem fotografias em situações inusitadas que façam rir. Só o teu regresso. Enquanto isso, vamos balbuciando entre cafés e cigarros que perderam a graça sem ti a reclamar do fumo e a alertar contra as doenças do pulmão, “Tenho tantas saudades…”, “Faz tanta falta…”, “Que vai ser de nós sem ele?”, “Ainda só passou um mês e parece um ano… Acho que não aguento mais dois…”, “Vamos ter com ele… Podíamos, sei lá… apanhar um avião…”, “Queria tanto que ele estivesse aqui para ver isto…”, “O João é que ia achar piada…”, “Vamos dizer que temos uma doença terminal e precisamos que ele volte…”
A nossa doença terminal chama-se mesmo saudade. Mas não é bem terminal, vive em constante estado de evolução, e apesar de sabermos que se agrava a cada dia que passa, a cada fim-de-semana em que quase não nos apetece sair porque sem ti não é a mesma coisa, também sabemos que tem cura. Sabemos que quando terminar vai ser porque te temos de volta. E torna-se doce a saudade. Porque significa apenas como és elementar, meu caro Watson.
Contar-te os meus segredos por e-mail não é a mesma coisa. Mas sei que quando voltares vou gostar de descobrir a mudança em ti. O crescimento. As tuas novas compulsões (não me digas que são as mesmas?). Vais ter tanta coisa para nos ensinar. Não espero que tragas respostas para a vida, nem para o amor, por mais que penses neles. Mas quando nos pudermos rir todos juntos outra vez, e voltar a discutir incansavelmente as eternas questões e os eternos problemas que desde que existimos nos assolam as conversas, estes três meses vão ser a melhor coisa que nos aconteceu. Porque está a ser a experiência da tua vida, e se é importante para ti, é importante para nós. São uns chatos, os amigos. Sempre colados às nossas ideias. Parece que não têm vida própria ou o camandro.