quinta-feira, 6 de março de 2008

Mar verde como relva verde como mar

Alguns versos soltos para aliviar o tédio. Como num sonho. Queria falar sem parar. Sem ninguém a ouvir. Sem ninguém a olhar. E chorar enquanto falo, deixar as lágrimas correr, os olhos como torneiras estragadas, dois rios que não correm para lado nenhum porque não tenho mar. Percorrer margens verdes que nunca acabam e nunca ter de chegar. Não quero chegar mas também não quero ficar. Deixa-me andar por favor. Só quero andar sem ter de escolher o caminho. Sem ruas, sem passeios, sem semáforos, sem nada que me obrigue a parar. A sério que não estou à procura do mar. Sei onde ele está e vou na direcção contrária. Deixa-me afogar. Posso fazê-lo em terra. Até posso boiar. Ou será que assim se chama flutuar? Não. Eu sei que sentada no chão estou a boiar. Lá porque tu não vês... Não estou nada a chorar. Era mentira. Eu não choro. Nunca chorei. E também não minto apesar de não conhecer a verdade. Sei lá o que isto é. Chama-lhe coisas se quiseres. As tuas mãos não tocam no mesmo que eu nem ouvimos a mesma música nem vimos o mesmo filme nem gostamos das mesmas ruas nem sorrimos das mesmas coisas. Mas se tocamos coisas e podemos ouvir e podemos ver e sabemos gostar e sabemos sorrir, então é porque somos iguais, à nossa maneira. Mas lá porque estou a escrever não quer dizer que esteja a pensar em ti. Quem és tu? Quem és tu? Também não sabes de mim nem onde estou. Não vou deixar que me voltes a encontrar. Se vais sair fecha a porta quando saíres porque é para isso que ela aí está. E não digas adeus porque também já não disseste olá. Desilude-me mais. Eu ensino-te.

1 comentário:

Anónimo disse...

Profundidade, melancolia, intensidade... Adorei.
Tudo se resume ao amor e às sombras...