domingo, 20 de janeiro de 2008

É isto que sinto no meu labirinto.

Perco-me aqui. A luz não é muita e eu não sei o caminho para voltar. Já me embrenhei demasiado. Já fui demasiado fundo. Já me perdi. O meu passo é firme e decidido, vou em frente, mas não sei para onde estou a caminhar. Vou como cega. Não sei onde vai dar esta rua. Cá fora é tudo igual. Tudo igualmente cansativo. Mas há qualquer coisa que brilha algures e é para lá que quero ir. Quero entrar nesse brilho mas às vezes pergunto-me se não é debaixo da pele que devia procurar. Se tenho uma porta ainda não descobri como se abre. Por um momento tremi sem ser do frio, embora o ar me arrefeça. Acho. Talvez fosse tudo mais fácil se não existissem palavras. Ou talvez isso me deixasse imóvel. Mas as que tenho dentro de mim são demasiadas, em torrentes ininterruptas, abruptas, cruéis, dolorosas. Como se nas veias me corressem pedaços de vidro. Pedaços de qualquer coisa estilhaçada. Ou qualquer coisa ainda por nascer. Talvez ainda nem saiba o meu nome. Só tenho palavras debaixo da pele. Quase só. Sou como uma torneira estragada estupidamente à espera de conserto. Não há. Por isso deixo-as correr em silêncio. À espera. Queria extraí-las todas de dentro de mim, com uma precisão cirúrgica. É isso que tento. Ou talvez o esforço seja ridiculamente ínfimo. Não gosto de mentir. Eu já disse que não sei onde fica a porta. Só nunca mo disse olhando-me nos olhos. Não há espelho onde isso caiba. Vou virar aqui. Talvez seja por aqui. Continuo sem saber onde estou. Não reconheço nada. Ou recuso-me a reconhecer. É tudo novo e desconhecido e é tudo velho ao mesmo tempo. Fecho os olhos durante mais tempo que o normal quando pestanejo. É que me cansa o que vejo.

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