Ficção, nua e crua.
Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
Tirando uma coisita ou outra.
Saudações muito sérias e muito sóbrias, como deve ser.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2006
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006
Das cinzas.
Ainda me lembro do dia em que te conheci. Eras igualzinho ao que és hoje! É engraçado como temos a sensação de que a maior parte das pessoas não muda nada e olhamos para nós e achamo-nos tão diferentes daquilo que fomos. Abismalmente.
Mas voltemos ao dia em que te conheci. Alguns segundos (ou minutos, talvez, sei lá) depois de te teres sentado na nossa mesa dei por mim a pensar: Era capaz de me apaixonar por este gajo. Palavra por palavra. Juro. Lembro-me como se tivesse sido na semana passada. Ou melhor ainda. E já passaram anos. Acreditei naquele momento que era possível, provável até, apaixonar-me por ti. E assim foi. Passados uns meses, era impossível negar. Estava perdidamente apaixonada. E ainda hoje tu não sabes! Não fazes ideia. A não ser que algum fala-barato se tenha descosido. Mas acho que não. Foi uma paixão declaradamente secreta. Porque foi na mesma altura em que conheceste a mulher da tua vida. E não era eu.
O mais divertido é que simpatizei com ela! Era incapaz de odiar. Ainda sou. Bem sei que o poeta tem razão quando diz Que o ódio, infelizmente,/quando o clima é de horror,/é forma inteligente/de se morrer de amor.(*) Mas nestas coisas fui sempre um bocado estúpida. Tão esperta para umas coisas, tão burra para outras. Amar até à morte tudo bem, amar até ao ódio é que não. E talvez o meu amor não fosse assim tão grande. É que não cheguei a morrer. Limitei-me a renascer numa nova paixão. Mais forte ainda, confesso. Mas não fiques triste, as circunstâncias eram totalmente diferentes. E assim provei, sem deixar lugar para dúvidas, que se pode renascer sem se ter morrido antes. Parece parvo, mas faz todo o sentido.
E como gosto de ti, faço-te presente de um segredo. Quando se ama alguém de verdade, esse amor nunca chega a morrer. Só adormece. Cuidadinho, porque pode despertar a qualquer instante. É daquelas coisas inesperadas. E não me olhes assim, por favor. Fazes-me frio.
(*) António Gedeão, Amor sem tréguas
Mas voltemos ao dia em que te conheci. Alguns segundos (ou minutos, talvez, sei lá) depois de te teres sentado na nossa mesa dei por mim a pensar: Era capaz de me apaixonar por este gajo. Palavra por palavra. Juro. Lembro-me como se tivesse sido na semana passada. Ou melhor ainda. E já passaram anos. Acreditei naquele momento que era possível, provável até, apaixonar-me por ti. E assim foi. Passados uns meses, era impossível negar. Estava perdidamente apaixonada. E ainda hoje tu não sabes! Não fazes ideia. A não ser que algum fala-barato se tenha descosido. Mas acho que não. Foi uma paixão declaradamente secreta. Porque foi na mesma altura em que conheceste a mulher da tua vida. E não era eu.
O mais divertido é que simpatizei com ela! Era incapaz de odiar. Ainda sou. Bem sei que o poeta tem razão quando diz Que o ódio, infelizmente,/quando o clima é de horror,/é forma inteligente/de se morrer de amor.(*) Mas nestas coisas fui sempre um bocado estúpida. Tão esperta para umas coisas, tão burra para outras. Amar até à morte tudo bem, amar até ao ódio é que não. E talvez o meu amor não fosse assim tão grande. É que não cheguei a morrer. Limitei-me a renascer numa nova paixão. Mais forte ainda, confesso. Mas não fiques triste, as circunstâncias eram totalmente diferentes. E assim provei, sem deixar lugar para dúvidas, que se pode renascer sem se ter morrido antes. Parece parvo, mas faz todo o sentido.
E como gosto de ti, faço-te presente de um segredo. Quando se ama alguém de verdade, esse amor nunca chega a morrer. Só adormece. Cuidadinho, porque pode despertar a qualquer instante. É daquelas coisas inesperadas. E não me olhes assim, por favor. Fazes-me frio.
(*) António Gedeão, Amor sem tréguas
domingo, 12 de fevereiro de 2006
Certas pessoas
Sentia que carregava o peso do mundo sobre os ombros. Há pessoas assim. Parece exagero, eu sei. Mas é uma hipérbole bonita.
Preferia sofrer por si, numa divisão mal iluminada, que ver os outros sofrer. Ou que fazer sofrer os outros. Parecia-lhe que o seu era um sofrimento menor. Menos importante. Ou então achava-se mais capaz de lidar com a dor que qualquer outra pessoa no mundo. Não sei. Talvez fosse hábito. Mas não, é impossível alguém habituar-se a sofrer. Seria demasiado triste. Como se tomasse analgésicos para a vida. Ninguém deve estar assim tão anestesiado. Talvez seja preferível sofrer vezes sem conta como se fosse sempre a primeira. Como se todas as dores fossem uma dor nova. Porque são. Mesmo que lhe sejam familiares.
Era aquele sentimento de responsabilidade e aquela necessidade de proteger que motivavam as suas escolhas. Ou talvez não fosse tudo altruísmo. Talvez a dor se transformasse no seu vício. Um vício privado e oculto, quem sabe se até de si mesmo. Mas prefiro pensar que era altruísmo aquela apetência pelo sofrimento. Nada de masoquismos. Apenas um coração demasiado grande para caber no peito, intacto. E talvez fosse por isso que sonhava todas as noites com ataques de tosse violenta que lhe faziam cuspir aos poucos os pedaços sangrentos do seu coração despedaçado. Sonho sanguinolento mas com o seu quê de poético. E nem uma gota de desespero maculava a poça vermelha que se formava todas as noites a seus pés. Em sonhos. Somente uma resignação adocicada que não confundia com conformismo. Resignava-se a esperar. Era o que bastava. Porque enquanto lhe pulsassem as veias, ressoar-lhe-ia nos ouvidos a esperança. Esperança de que um dia não lhe fosse dado a escolher entre o sofrimento de ninguém. E que a felicidade pudesse ser repartida. Sem nenhuma espécie de desiquilíbrio. Que o sangue da balança coagulasse e fosse limpo. Que a balança não fosse mais precisa. Que finalmente o mundo entrasse nos eixos e deixasse de lhe pesar nos ombros. E que acabassem as lágrimas, sem terem necessariamente de secar.
Há pessoas assim...
Preferia sofrer por si, numa divisão mal iluminada, que ver os outros sofrer. Ou que fazer sofrer os outros. Parecia-lhe que o seu era um sofrimento menor. Menos importante. Ou então achava-se mais capaz de lidar com a dor que qualquer outra pessoa no mundo. Não sei. Talvez fosse hábito. Mas não, é impossível alguém habituar-se a sofrer. Seria demasiado triste. Como se tomasse analgésicos para a vida. Ninguém deve estar assim tão anestesiado. Talvez seja preferível sofrer vezes sem conta como se fosse sempre a primeira. Como se todas as dores fossem uma dor nova. Porque são. Mesmo que lhe sejam familiares.
Era aquele sentimento de responsabilidade e aquela necessidade de proteger que motivavam as suas escolhas. Ou talvez não fosse tudo altruísmo. Talvez a dor se transformasse no seu vício. Um vício privado e oculto, quem sabe se até de si mesmo. Mas prefiro pensar que era altruísmo aquela apetência pelo sofrimento. Nada de masoquismos. Apenas um coração demasiado grande para caber no peito, intacto. E talvez fosse por isso que sonhava todas as noites com ataques de tosse violenta que lhe faziam cuspir aos poucos os pedaços sangrentos do seu coração despedaçado. Sonho sanguinolento mas com o seu quê de poético. E nem uma gota de desespero maculava a poça vermelha que se formava todas as noites a seus pés. Em sonhos. Somente uma resignação adocicada que não confundia com conformismo. Resignava-se a esperar. Era o que bastava. Porque enquanto lhe pulsassem as veias, ressoar-lhe-ia nos ouvidos a esperança. Esperança de que um dia não lhe fosse dado a escolher entre o sofrimento de ninguém. E que a felicidade pudesse ser repartida. Sem nenhuma espécie de desiquilíbrio. Que o sangue da balança coagulasse e fosse limpo. Que a balança não fosse mais precisa. Que finalmente o mundo entrasse nos eixos e deixasse de lhe pesar nos ombros. E que acabassem as lágrimas, sem terem necessariamente de secar.
Há pessoas assim...
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006
É mais fácil acreditar no incrível!
Uma vez conheci um rapaz que me contou que numa noite, depois de o namoro dele com uma certa rapariga ter terminado, lhe deu uma pancada enorme e saiu de casa a correr, só de boxers e descalço, para ir ter a casa dela e dizer-lhe que a amava. Ou para lhe pedir perdão por qualquer motivo. Já não sei bem. Lamento não ter registado os factos com precisão. Também não tenho a certeza se ela voltou para ele, mas acho que não. E não se preocupem que não estou a cometer nenhuma indiscrição ao contar-vos isto. Na altura perguntei-lhe se podia incluir a história dele numa história das minhas, se um dia escrevesse um livro. Ele mal me conhecia e provavelmente já nem se lembra, mas na altura respondeu-me que se sentiria lisonjeado, ou honrado, ou algo parecido; como disse, já não sei precisar e também não vos quero enganar. Está bem que isto não é nenhum livro, nem estou a contar nenhuma história, mas acho que ele não se ia importar. Caso contrário, apresento desde já as minhas sinceras desculpas.
Mas onde eu queria chegar com isto tudo, antes de me dispersar, era ao facto de eu ter acreditado nele sem sequer pestanejar. Claro que perguntei: A sério?!, mas não cheguei a duvidar.
E há pouco mais de uma semana, no Domingo, dia 29 de Janeiro, tinha eu adormecido há cerca de uma hora, depois de uma directa, quando a minha mãe me veio acordar porque estava a nevar. E eu levantei-me num ápice e fui a correr para a janela. É engraçado como nem sequer estranhei que nevasse aqui, onde nunca tinha nevado desde que eu sou viva!
Mas quando uma vez deixei cair um frasco de maionese no chão da cozinha e fiquei com uma área de um metro e meio em meu redor coberta de molho misturado com vidros, deixei-me estar com ar de estúpida a olhar para baixo, sem outra reacção a não ser a de dizer em voz alta: Isto não me está a acontecer! Não estou a acreditar! E não estava mesmo. Demorei um bocadito a encarar a realidade e a começar a limpar aquela porcaria.
E nunca vos aconteceu contarem-vos uma grande mentira e quando começam a desconfiar que não é verdade entram em negação, rejeitam a hipótese de que alguém possa ser desonesto convosco, até ser demasiado óbvio e já não poderem negar mais? O mesmo quando um amigo ou alguém de quem gostam muito e que têm a certeza que também gosta muito de vocês (mesmo que já tenham tido atritos no passado) faz algo que vos magoa. Que vos magoa assim mesmo muito. De rasgar o coração. Quer tenha sido de propósito ou não. É que às vezes temos vontade de magoar as pessoas de quem gostamos; outras vezes não temos a intenção mas magoamos na mesma; outras ainda, nem sequer pensamos, nem sequer nos lembramos que podemos estar a magoar alguém. O último caso acaba por ser o mais cruel. Estúpida falta de cuidado! Egoísmo crónico a que estamos destinados. E insensíveis que somos às vezes...
(Podia dar mais exemplos para reforçar a teoria, mas como não vos quero abusar da paciência, salto já para os finalmentes.)
A conclusão a que chego, no fim ou no meio disto tudo, está no título. É tão mais fácil acreditar no incrível, no ináudito, no impensável, que no mais normal, mais natural que pode existir! Porque será? Ah! Mistérios insondáveis da natureza humana! Conseguem ser tão ridículos às vezes...
Mas onde eu queria chegar com isto tudo, antes de me dispersar, era ao facto de eu ter acreditado nele sem sequer pestanejar. Claro que perguntei: A sério?!, mas não cheguei a duvidar.
E há pouco mais de uma semana, no Domingo, dia 29 de Janeiro, tinha eu adormecido há cerca de uma hora, depois de uma directa, quando a minha mãe me veio acordar porque estava a nevar. E eu levantei-me num ápice e fui a correr para a janela. É engraçado como nem sequer estranhei que nevasse aqui, onde nunca tinha nevado desde que eu sou viva!
Mas quando uma vez deixei cair um frasco de maionese no chão da cozinha e fiquei com uma área de um metro e meio em meu redor coberta de molho misturado com vidros, deixei-me estar com ar de estúpida a olhar para baixo, sem outra reacção a não ser a de dizer em voz alta: Isto não me está a acontecer! Não estou a acreditar! E não estava mesmo. Demorei um bocadito a encarar a realidade e a começar a limpar aquela porcaria.
E nunca vos aconteceu contarem-vos uma grande mentira e quando começam a desconfiar que não é verdade entram em negação, rejeitam a hipótese de que alguém possa ser desonesto convosco, até ser demasiado óbvio e já não poderem negar mais? O mesmo quando um amigo ou alguém de quem gostam muito e que têm a certeza que também gosta muito de vocês (mesmo que já tenham tido atritos no passado) faz algo que vos magoa. Que vos magoa assim mesmo muito. De rasgar o coração. Quer tenha sido de propósito ou não. É que às vezes temos vontade de magoar as pessoas de quem gostamos; outras vezes não temos a intenção mas magoamos na mesma; outras ainda, nem sequer pensamos, nem sequer nos lembramos que podemos estar a magoar alguém. O último caso acaba por ser o mais cruel. Estúpida falta de cuidado! Egoísmo crónico a que estamos destinados. E insensíveis que somos às vezes...
(Podia dar mais exemplos para reforçar a teoria, mas como não vos quero abusar da paciência, salto já para os finalmentes.)
A conclusão a que chego, no fim ou no meio disto tudo, está no título. É tão mais fácil acreditar no incrível, no ináudito, no impensável, que no mais normal, mais natural que pode existir! Porque será? Ah! Mistérios insondáveis da natureza humana! Conseguem ser tão ridículos às vezes...
domingo, 5 de fevereiro de 2006
Quando a noite perde o rosto.
Quantos de nós podem dizer, sem mentir, que não gostam de olhar o céu à noite? Muito poucos, calculo. É que também há muito poucas coisas mais bonitas que a lua, seja em que fase for, ou que as estrelas.
Por vezes, pode acontecer que ao olhar o céu se veja mais do que astros brilhantes. Não me refiro a ovnis, refiro-me a um rosto. Não é um rosto qualquer mas também não é um rosto específico. Depende de quem o vê! É simplesmente o rosto de alguém que conhecemos em tempos, de alguém que amámos. Talvez tenhamos conhecido essa pessoa numa noite estrelada, talvez passassemos horas a rir ao relento, debaixo do céu, ou talvez tivesse o brilho das estrelas nos olhos e o seu sorriso fosse acariciante como o luar. Seja porque for. A verdade é que as estrelas mudam. Ganham um novo significado. E depois, numa noite qualquer, estamos sozinhos e decidimos ir até à varanda ver se está frio, ou até à janela fumar um cigarro, ou saímos para tomar café, ou dá-nos apenas vontade de olhar as estrelas. E aquela verdade atinge-nos como um raio. Mesmo que esteja bom tempo. Especialmente se estiver bom tempo! Apercebemo-nos, num misto de medo e deslumbramento, que já não olhamos apenas as estrelas, nem apenas a lua. Aquele rosto está lá. No firmamento e para além dele. No nosso coração, onde também é noite e a lua está cheia. É então que começamos a olhar para cima de maneira diferente. À sucapa, com um sorriso disfarçado, como se nos rissemos de uma piada que mais ninguém percebeu, porque sentimos vontade de beijar as estrelas e essa ideia nos parece bela e ridícula em simultâneo.
Mas o tempo passa. Coisas acontecem. Como sempre. Surgem as incertezas e as lágrimas. Nada é como antes. Decidimos esquecer. Porque já chega e é pelo melhor. Seja lá isso o que for. Tentamos esquecer. Mas as estrelas estão lá sempre para nos recordar. A lua ri-se de nós. O céu permanece no mesmo lugar. Em todo o lado. É impossível fugir-lhe.
Até que um dia, sem aviso prévio e completamente de surpresa, damos connosco a olhar para cima mais uma vez. É noite. As estrelas estão lá. A lua está lá. Até as nuvens vêm acrescentar farrapos de beleza ao cenário. É lindo de ver. E não acontece nada. O coração não salta, não ri, não dói. Nada. A ferida sarou. O rosto desapareceu. Já não está nas estrelas, ficou apenas na memória. Num lugar especial, é certo. Mas do passado. E sentimos um alívio imenso, misturado com aquela nostalgia que não é mais que os restos mortais de um grande amor. Naquele momento entendemos. Estamos preparados para seguir em frente. Acabou o luto.
Por vezes, pode acontecer que ao olhar o céu se veja mais do que astros brilhantes. Não me refiro a ovnis, refiro-me a um rosto. Não é um rosto qualquer mas também não é um rosto específico. Depende de quem o vê! É simplesmente o rosto de alguém que conhecemos em tempos, de alguém que amámos. Talvez tenhamos conhecido essa pessoa numa noite estrelada, talvez passassemos horas a rir ao relento, debaixo do céu, ou talvez tivesse o brilho das estrelas nos olhos e o seu sorriso fosse acariciante como o luar. Seja porque for. A verdade é que as estrelas mudam. Ganham um novo significado. E depois, numa noite qualquer, estamos sozinhos e decidimos ir até à varanda ver se está frio, ou até à janela fumar um cigarro, ou saímos para tomar café, ou dá-nos apenas vontade de olhar as estrelas. E aquela verdade atinge-nos como um raio. Mesmo que esteja bom tempo. Especialmente se estiver bom tempo! Apercebemo-nos, num misto de medo e deslumbramento, que já não olhamos apenas as estrelas, nem apenas a lua. Aquele rosto está lá. No firmamento e para além dele. No nosso coração, onde também é noite e a lua está cheia. É então que começamos a olhar para cima de maneira diferente. À sucapa, com um sorriso disfarçado, como se nos rissemos de uma piada que mais ninguém percebeu, porque sentimos vontade de beijar as estrelas e essa ideia nos parece bela e ridícula em simultâneo.
Mas o tempo passa. Coisas acontecem. Como sempre. Surgem as incertezas e as lágrimas. Nada é como antes. Decidimos esquecer. Porque já chega e é pelo melhor. Seja lá isso o que for. Tentamos esquecer. Mas as estrelas estão lá sempre para nos recordar. A lua ri-se de nós. O céu permanece no mesmo lugar. Em todo o lado. É impossível fugir-lhe.
Até que um dia, sem aviso prévio e completamente de surpresa, damos connosco a olhar para cima mais uma vez. É noite. As estrelas estão lá. A lua está lá. Até as nuvens vêm acrescentar farrapos de beleza ao cenário. É lindo de ver. E não acontece nada. O coração não salta, não ri, não dói. Nada. A ferida sarou. O rosto desapareceu. Já não está nas estrelas, ficou apenas na memória. Num lugar especial, é certo. Mas do passado. E sentimos um alívio imenso, misturado com aquela nostalgia que não é mais que os restos mortais de um grande amor. Naquele momento entendemos. Estamos preparados para seguir em frente. Acabou o luto.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006
Desvenda-lhe o lado lunar!
Ela não saberia dizer ao certo o que primeiro a atraíra. Talvez aquele jeito meio brincalhão de dançar, sem olhar de frente para ninguém em especial. Ou o arzinho tímido de quem se vê em território desconhecido. Ou o facto de as suas tentativas de lhe encontrar o olhar saírem frustradas. Não era costume. Deu por si a seguir-lhe os movimentos irritadamente, persistentemente. Sem qualquer resultado. Adoptou a táctica de ser fixe para as pessoas em redor. Para ele ver como ela podia ser divertida. Se conseguia cativar toda a gente com as suas gargalhadas sinceras, porque não a ele também?
Durante muito tempo tentou captá-lo. A partir de quase nada, ou mesmo de coisa nenhuma, imaginou-o. Riso cómico e característico, fácil e contagiante. Olhos tristes e um pouco parados. O que via só ele sabe. Indícios de uma vida melancólica - como o seu carácter - e de traumas passados e secretos. Mas sempre divertido. De todas as vezes que o via tinha vontade de lhe abraçar aquele lado mais escuro. De lhe beijar aquela sombra do olhar. De lhe conhecer os segredos.
Que injustiça! Ele conseguia ter para si o mistério que ela desejava desde sempre. Talvez mesmo porque nem se apercebia disso. A pobre perguntava-se no meio da sua solidão rodeada de gente se seria apenas ela a reparar. E no momento a seguir envergonhava-se da sua pretensão. Aos poucos, foi perdendo a coragem de o observar. Apagava-se junto dele, com medo de que o calor que lhe emanava do peito embaciasse os vidros das janelas. Aproveitava todos os momentos em que podia apenas fechar os olhos e respirar a presença dele. Em que podia estar de costas, sabendo que ele estava a poucos metros; desafiando-se a si mesma a adivinhar que espaço preciso é que ele ocupava.
Desde pequenina que tinha curiosidade em saber como seria. Uma paixão platónica! Como nas histórias. Agora que sabia, dizia para si mesma todas as noites ao deitar:
Às urtigas, o Amor!!!
Durante muito tempo tentou captá-lo. A partir de quase nada, ou mesmo de coisa nenhuma, imaginou-o. Riso cómico e característico, fácil e contagiante. Olhos tristes e um pouco parados. O que via só ele sabe. Indícios de uma vida melancólica - como o seu carácter - e de traumas passados e secretos. Mas sempre divertido. De todas as vezes que o via tinha vontade de lhe abraçar aquele lado mais escuro. De lhe beijar aquela sombra do olhar. De lhe conhecer os segredos.
Que injustiça! Ele conseguia ter para si o mistério que ela desejava desde sempre. Talvez mesmo porque nem se apercebia disso. A pobre perguntava-se no meio da sua solidão rodeada de gente se seria apenas ela a reparar. E no momento a seguir envergonhava-se da sua pretensão. Aos poucos, foi perdendo a coragem de o observar. Apagava-se junto dele, com medo de que o calor que lhe emanava do peito embaciasse os vidros das janelas. Aproveitava todos os momentos em que podia apenas fechar os olhos e respirar a presença dele. Em que podia estar de costas, sabendo que ele estava a poucos metros; desafiando-se a si mesma a adivinhar que espaço preciso é que ele ocupava.
Desde pequenina que tinha curiosidade em saber como seria. Uma paixão platónica! Como nas histórias. Agora que sabia, dizia para si mesma todas as noites ao deitar:
Às urtigas, o Amor!!!
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006
Quando a rosa descobre que é uma máquina de guerra.
Existem três tipos de rosas. Mas não é pela cor que se distinguem.
Enquanto são ainda pequenos botões não se preocupam com mais nada a não ser aprontarem-se para desabrochar. Para saírem perfeitas. Não que sejam vaidosas, como muitos julgam; apenas gostam de agradar. Quando abrem pela primeira vez as pétalas ao sol, o deslumbramento é tal que ficam petrificadas, em contemplação, até que descubram o vento.
Muitas rosas permanecem neste estado puro até ao fim. Dedicam os seus dias a sentir o calor do sol nas pétalas, a escutar os murmúrios do vento e a sentir as suas carícias por entre as folhas que estendem de prazer. Embriagadas na fotossíntese. Completamente alheadas de si mesmas. Alegres e despreocupadas, sorrindo ao mundo. São as rosas inocentes.
Depois há as rosas que passam os dias com medo dos insectos e os ameaçam constantemente com os seus pequenos espinhos afiados, convencidas de que estes bastarão para as defender de tudo e de todos (como a rosa do Princípezinho...). Conversam com as irmãs, queixando-se do perigo das lagartas e do assédio das abelhas. São as rosas ingénuas e palermas.
Mas há ainda um terceiro tipo de rosa. A rosa que um dia, não se sabe muito bem como nem porquê, descobre toda a dimensão da sua beleza. E apercebe-se de que esta é a arma mais poderosa de todas. Infinitamente mais devastadora que uns simples espinhos. Dedica-se então a coleccionar corações. Colecção sangrenta a sua, direis. Mas ela não o faz por mal. Em si não há lugar para a maldade. Fá-lo apenas porque lhe dá prazer. E porque sabe que pode. Simplesmente cumpre o seu destino. Se um transeunte incauto passa por ela, lança-lhe o seu perfume arrebatador, que o entontece. Se ele pára para a admirar, inclina-se suavemente na sua direcção, usando a brisa como pretexto para o seu desiquilíbrio momentâneo. Se ele lhe toca, pica-o com doçura, inebriada pelo sangue quente que a inunda e tanto a excita. Se vê que ele repara nos pequenos cortes que lhe marcam o tronco, ri-se para dentro porque sabe que ele pensará que se tratam das sequelas deixadas por alguma faca ou tesoura, ao colher uma das sua irmãs. E quando finalmente ele se afasta - por saber que a levará no pensamento, que será a causa da sua perturbação, que aquele coração lhe pertence para sempre, para uma eternidade maior que algumas vidas - utiliza rejubilante o próprio espinho para rasgar a sua carne de flor, num ritual de automutilação que lhe permite actualizar o inventário da sua colecção. E espera que passe mais alguém. Estas são as rosas perigosas. E as que mais vale a pena conhecer.
Se amanhã passardes por um jardim, acautelai-vos. Agora conheceis os riscos. Se quereis conservar o coração livre, afastai-vos das roseiras. Se não vos importais e quereis sentir na pele a doce mordedura de uma rosa, ide e aspirai o seu perfume. Se, como o meu, o vosso coração já pertence a alguma rosa, então não preciso dizer mais nada. Sabeis do que falo.
Muitas rosas permanecem neste estado puro até ao fim. Dedicam os seus dias a sentir o calor do sol nas pétalas, a escutar os murmúrios do vento e a sentir as suas carícias por entre as folhas que estendem de prazer. Embriagadas na fotossíntese. Completamente alheadas de si mesmas. Alegres e despreocupadas, sorrindo ao mundo. São as rosas inocentes.
Depois há as rosas que passam os dias com medo dos insectos e os ameaçam constantemente com os seus pequenos espinhos afiados, convencidas de que estes bastarão para as defender de tudo e de todos (como a rosa do Princípezinho...). Conversam com as irmãs, queixando-se do perigo das lagartas e do assédio das abelhas. São as rosas ingénuas e palermas.
Mas há ainda um terceiro tipo de rosa. A rosa que um dia, não se sabe muito bem como nem porquê, descobre toda a dimensão da sua beleza. E apercebe-se de que esta é a arma mais poderosa de todas. Infinitamente mais devastadora que uns simples espinhos. Dedica-se então a coleccionar corações. Colecção sangrenta a sua, direis. Mas ela não o faz por mal. Em si não há lugar para a maldade. Fá-lo apenas porque lhe dá prazer. E porque sabe que pode. Simplesmente cumpre o seu destino. Se um transeunte incauto passa por ela, lança-lhe o seu perfume arrebatador, que o entontece. Se ele pára para a admirar, inclina-se suavemente na sua direcção, usando a brisa como pretexto para o seu desiquilíbrio momentâneo. Se ele lhe toca, pica-o com doçura, inebriada pelo sangue quente que a inunda e tanto a excita. Se vê que ele repara nos pequenos cortes que lhe marcam o tronco, ri-se para dentro porque sabe que ele pensará que se tratam das sequelas deixadas por alguma faca ou tesoura, ao colher uma das sua irmãs. E quando finalmente ele se afasta - por saber que a levará no pensamento, que será a causa da sua perturbação, que aquele coração lhe pertence para sempre, para uma eternidade maior que algumas vidas - utiliza rejubilante o próprio espinho para rasgar a sua carne de flor, num ritual de automutilação que lhe permite actualizar o inventário da sua colecção. E espera que passe mais alguém. Estas são as rosas perigosas. E as que mais vale a pena conhecer.
Se amanhã passardes por um jardim, acautelai-vos. Agora conheceis os riscos. Se quereis conservar o coração livre, afastai-vos das roseiras. Se não vos importais e quereis sentir na pele a doce mordedura de uma rosa, ide e aspirai o seu perfume. Se, como o meu, o vosso coração já pertence a alguma rosa, então não preciso dizer mais nada. Sabeis do que falo.
Se estavas tão seguro disso, porque não disseste antes?
Malditas palavras por dizer! As tuas e as minhas... Era tudo tão mais fácil se simplesmente fossemos sinceros e o dissessemos de uma vez. O que sentimos realmente, pois. Porque teimamos em pensar que seria mais difícil? Estupidez propositada. Que é como quem diz um medo que chega a ser terror. Tremem as mãos, empalidece o rosto, fraquejam os joelhos. Pára o pulmão e dispara o coração! Impossível pensar. Só depois. Quando já é tarde, claro. Mas porque é que tem de ser tarde, alguma vez? Quem é que decide quando é cedo, ou quando é tarde, ou quando chegou a altura certa? Raios, a altura certa é imprevisível! Não podemos sabê-la antes que chegue. Se damos com ela é por acaso. Significará isto que devemos agir o maior número de vezes possível, para que a probabilidade de atingir alguma vez o momento certo seja maior? Mas assim também aumenta o número de vezes que podemos falhar! Que somos inconvenientes. A questão é que os sentimentos nunca deviam ser inconvenientes. Mas às vezes são. Problema insolúvel!
A intuição. Deve ser a intuição que nos guia nestas coisas. Deve haver uma vozinha que diz: "Agora!! Ready...Set...Go!!". Pelo menos já me têm dito para me deixar guiar pela intuição. Ora bolas, como é que eu vou saber que tenho disso? Não há cá vozinha nenhuma! E se houvesse era capaz de ficar preocupada. Se fosse mesmo verdade que todos temos intuição (especialmente as mulheres, segundo dizem) e que esta é o melhor guia que se pode ter, então devia correr tudo bem! Não devia haver problemas nem dúvidas. Era só seguir a intuição! Pois claro.
Talvez o melhor fosse termos uma espécie de reflexo involuntário. Do estilo, quando fosse preciso dizer alguma coisa, mas alguma coisa importante (nada do estilo eu dizer agora que há pouco espirrei para cima do monitor, o que por acaso até é mentira), quando precisassemos de dizer alguma coisa importante a alguém, não seria necessário nenhum esforço sobrehumano, as palavras sairiam naturalmente, fluidas e livres, sem ser preciso pensar. Não haveria aquele dilema medonho do digo-ou-não-digo. Dizer o que sentimos deveria ser como fechar os olhos ao espirrar.
Como na realidade as coisas não funcionam nada assim, a solução ideal era, mesmo sem o tal reflexo involuntário, dizermos aquilo que sentimos à pessoa em questão, deliberadamente e sem medo, na primeira oportunidade. E pronto. Assunto arrumado. Está dito, está dito. Depois logo se vê!
E penso eu que pensam vocês: "Pois sim, minha amiga, falar é fácil!..." Mas não. Tenho estado a dizer precisamente o contrário. É fácil uma merda!
A intuição. Deve ser a intuição que nos guia nestas coisas. Deve haver uma vozinha que diz: "Agora!! Ready...Set...Go!!". Pelo menos já me têm dito para me deixar guiar pela intuição. Ora bolas, como é que eu vou saber que tenho disso? Não há cá vozinha nenhuma! E se houvesse era capaz de ficar preocupada. Se fosse mesmo verdade que todos temos intuição (especialmente as mulheres, segundo dizem) e que esta é o melhor guia que se pode ter, então devia correr tudo bem! Não devia haver problemas nem dúvidas. Era só seguir a intuição! Pois claro.
Talvez o melhor fosse termos uma espécie de reflexo involuntário. Do estilo, quando fosse preciso dizer alguma coisa, mas alguma coisa importante (nada do estilo eu dizer agora que há pouco espirrei para cima do monitor, o que por acaso até é mentira), quando precisassemos de dizer alguma coisa importante a alguém, não seria necessário nenhum esforço sobrehumano, as palavras sairiam naturalmente, fluidas e livres, sem ser preciso pensar. Não haveria aquele dilema medonho do digo-ou-não-digo. Dizer o que sentimos deveria ser como fechar os olhos ao espirrar.
Como na realidade as coisas não funcionam nada assim, a solução ideal era, mesmo sem o tal reflexo involuntário, dizermos aquilo que sentimos à pessoa em questão, deliberadamente e sem medo, na primeira oportunidade. E pronto. Assunto arrumado. Está dito, está dito. Depois logo se vê!
E penso eu que pensam vocês: "Pois sim, minha amiga, falar é fácil!..." Mas não. Tenho estado a dizer precisamente o contrário. É fácil uma merda!
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006
Mais uma!
Lá teve de ser. Depois de dois anos e meio de resistência, acabei por me decidir, assim, na loucura, a criar o meu próprio blog. "O meu próprio blog". Note-se a altivez com que digo isto. Se conseguisse até levantava ligeiramente uma das sobrancelhas mas para minha grande infelicidade esse é um dos muitos talentos que não tenho o privilégio de possuir. Por aqui só se arranja mesmo um certo ar de enjoada.
E pronto, agora que já escrevi meia dúzia (e é que foi mesmo) de frases idiotas que não terão outro efeito a não ser o de afugentar possíveis leitores, apresento-me. Ou se calhar é melhor não. Pois, esqueçam. Não quero desatar já assim a dar confianças em demasia. Prefiro uma aproximação suave, subtil, como quem não quer a coisa. Logo de chofre não tinha piada nenhuma. Não que tenha de outra maneira, mas enfim.
Acho que para primeiro post já chega, já me humilhei o suficiente. Ah, calma. Era suposto dar uma ideia do que vou escrever por aqui, certo? Pois, o problema é que não sei. Logo se vê. O que me der na real gana. Afinal de contas, é o meu blog, e no meu blog, escrevo o que eu quiser. Isto era a minha pessoa a marcar território, não que fosse preciso, mas porque me apeteceu. E claro, ainda me estou a habituar à ideia. Acho que vou dizer "meu blog" quinhentas vezes, ou até me fartar, o que deverá ser por estas alturas.
Não chateio mais. Por agora. :)
Saudações esfuziantes!
E pronto, agora que já escrevi meia dúzia (e é que foi mesmo) de frases idiotas que não terão outro efeito a não ser o de afugentar possíveis leitores, apresento-me. Ou se calhar é melhor não. Pois, esqueçam. Não quero desatar já assim a dar confianças em demasia. Prefiro uma aproximação suave, subtil, como quem não quer a coisa. Logo de chofre não tinha piada nenhuma. Não que tenha de outra maneira, mas enfim.
Acho que para primeiro post já chega, já me humilhei o suficiente. Ah, calma. Era suposto dar uma ideia do que vou escrever por aqui, certo? Pois, o problema é que não sei. Logo se vê. O que me der na real gana. Afinal de contas, é o meu blog, e no meu blog, escrevo o que eu quiser. Isto era a minha pessoa a marcar território, não que fosse preciso, mas porque me apeteceu. E claro, ainda me estou a habituar à ideia. Acho que vou dizer "meu blog" quinhentas vezes, ou até me fartar, o que deverá ser por estas alturas.
Não chateio mais. Por agora. :)
Saudações esfuziantes!
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