Sou uma estátua de pedra e osso
sentada no centro de um quarto.
Não ouço o leve raspar de unhas na minha porta
nem o crânio que tenta fundir-se com a parede.
Não sinto frio nos pés
nem calor nas orelhas.
(Ninguém fala sobre mim mas todos me podem sentir.)
Não vejo o tapete sujo de sangue
nem os móveis cobertos de pó e de pele morta.
Não sinto a chuva que me molha
nem os estilhaços da janela podem cortar a minha carne de pedra.
Imóvel, não sofro nem um arranhão.
Atam-me com cordas
e erguem-me com um guindaste.
Lançam-me ao mar
para abafar o som da minha presença sufocante
e bato no fundo de areia.
Já não sou pedra.
A minha carne pulsa outra vez,
livre.
Abraço os joelhos
e encosto-lhes a boca.
Sustenho a respiração.
Recordo o líquido amniótico
e, de cabeça para baixo,
deixo-me boiar.
O calor afaga a minha coluna vertebral,
dentro e fora de água.
Ora fora, ora dentro.
Ainda não estou pronta
e o mundo lá fora pode esperar.
O lápis está afiado
(aperto-o com força na minha mão, o bico de carvão magoa-me o polegar)
mas as ideias ainda não puderam assentar
e os sonhos correm como a água,
escorrendo-me dos cabelos para o mar.
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2 comentários:
Miúda,
a tua escrita, os teus textos, a maneira como dizes, como falas das coisas...anda simplesmente maravilhosa!!Parabéns!
Cheguei aqui trazido pela "mão" de uma amiga minha, e simplesmente acho que não vou largar este espaço tão depressa..Impressionante
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