domingo, 21 de setembro de 2008

Poema do caminho para casa

velozmente
a paisagem
e o chão que corre
muito abaixo dos meus pés

um corredor de árvores
velozes
por cima da minha cabeça
quase lhes posso tocar
mas não posso
e elas passam
velozmente
por mim
que estou parada

o movimento e eu
formamos uma dicotomia singular
com pouco espaço para o cinzento

a velocidade aperta-me
e deixa-me neste lugar acanhado
em que não me posso esticar
e a trepidação
também me oprime
como se eu fosse ruir
a qualquer momento
como um prédio novo
de alicerces instáveis

comecei a ser construída pelo telhado

o que é que treme?
sou eu ou o mundo em que me deixo envolver?
é o chão?
sou eu?

a velocidade concilia-se comigo
o meu coração também corre
velozmente
assustado
debaixo de tanto verde

veloz
tropeça
e eu rio
porque posso
e faz passar

hoje não dormi
mas acordei com vontade de chorar
vou para casa
mas não posso ficar
começo a rir
devagar

condiz comigo
esse riso cruel
condiz comigo
esse olhar parado
fica-me bem
a paisagem acelerada
nos olhos
velozes

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