velozmente
a paisagem
e o chão que corre
muito abaixo dos meus pés
um corredor de árvores
velozes
por cima da minha cabeça
quase lhes posso tocar
mas não posso
e elas passam
velozmente
por mim
que estou parada
o movimento e eu
formamos uma dicotomia singular
com pouco espaço para o cinzento
a velocidade aperta-me
e deixa-me neste lugar acanhado
em que não me posso esticar
e a trepidação
também me oprime
como se eu fosse ruir
a qualquer momento
como um prédio novo
de alicerces instáveis
comecei a ser construída pelo telhado
o que é que treme?
sou eu ou o mundo em que me deixo envolver?
é o chão?
sou eu?
a velocidade concilia-se comigo
o meu coração também corre
velozmente
assustado
debaixo de tanto verde
veloz
tropeça
e eu rio
porque posso
e faz passar
hoje não dormi
mas acordei com vontade de chorar
vou para casa
mas não posso ficar
começo a rir
devagar
condiz comigo
esse riso cruel
condiz comigo
esse olhar parado
fica-me bem
a paisagem acelerada
nos olhos
velozes
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