segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Poema de saber que não me amas

Saber que não me amas
traz descanso ao meu peito
onde podes agora, sem complexos nem dramas,
encostar a tua cabeça por direito.

E eu posso beijar-te os olhos e o pescoço
apertar-te com força contra mim
sem causar qualquer destroço
sem termos em vista outro fim.

Os afectos entre nós serão mais sinceros
se desprovidos de intenções terceiras
sem nos deixarem inseguros
sem abismos nem fogueiras.

Basta dizeres as palavras certas
as que fecham o coração
sem nos tornarem pedras desertas
sem processos de fossilização.

As tuas provas de não amor
são o melhor que podes fazer
permitem-me ficar neste meu torpor
e permitem-me adormecer.

12 comentários:

Anónimo disse...

Ele pode não amar
mas vai-se sempre lembrar

Susana disse...

Às vezes as hipóteses são mais marcantes que os acontecimentos. Até para não amar é preciso oportunidade. ;)

Anónimo disse...

As hipóteses só são mais marcantes que os acontecimentos quando não passam disso mesmo...hipóteses.

Susana disse...

A meu ver, as hipóteses podem ser marcantes quando são grandiosas e os acontecimentos não estão à altura. No fundo quando o que se sente ultrapassa o que se faz. Mas nada disto é linear. Viva o estoicismo! Vivam os paradoxos!

Anónimo disse...

Os sentimentos ultrapassam sempre os atos. Eu cubro os teus vivas e aumento com "viva a diversidade"!

Susana disse...

Não concordo. Às vezes faz-se exactamente o que se sente e outras faz-se mais do que se sente e às vezes até se faz por sentir. O que me leva outra vez à espectacularidade das hipóteses por cumprir. Ou só das hipóteses. Mas aí já se ultrapassa o diverso a desviar para o infinito. Que aqui é tudo exacerbado, já se sabe.

Anónimo disse...

Tudo isso é verdade, mas ao mesmo tempo os atos nunca conseguem exprimir os sentimentos em toda a sua plenitude, seja por excesso ou defeito. Os sentimentos são e serão sempre puros na sua essência. Os atos não.

Susana disse...

Certíssimo, mas os sentimentos só são puros quando ainda não passaram de meras reacções químicas do teu organismo àquilo que te rodeia (ou que te acontece). A mim interessa-me o processo de racionalização a que estas reacções químicas são sujeitas, que vai dar origem a escolhas e só então a acções. O que é realmente interessante nisto tudo é o pensar sobre o sentir e a complexidade disso mesmo. Claro que às vezes não é nada complexo, é só "gosto, quero, anda cá" mas até isso não deixa de ser uma escolha fruto de uma racionalização de sentimentos.

Anónimo disse...

Sim, a racionalização dos sentimentos dá pano para mangas!!! Mas para mim a pureza dos mesmos não se esgota em meras reacções químicas...é tão mais profundo que isso...e o próprio processo de racionalização muitas vezes não nasce de uma escolha mas de algo mais intríseco, consciente ou não. Isto pode ser um visão romântica da coisa mas prefiro ver isto por este prisma!!!!

Susana disse...

Tanto a crueza de sentimentos como a racionalização exaustiva têm um lado romântico. A sério, eu não sou completamente cínica. Juro.

Anónimo disse...

"It goes without saying" mas na minha opinião: ná ná!!!! Lado romântico na racionalização exaustiva de sentimentos? Isso é como dividir por zero rapariga!!! Impossível!!!

Susana disse...

Ora essa, primeiro isso nem parece um comentário neste blogue, ou neste poema, just as well. Cerca de 97,8% (*)das publicações que fiz aqui são fruto de racionalizações exaustivas sobre sentimentos e destes, cerca de 96,9% (*) são de índole romântica -- não te deu essa impressão?
E depois posso dizer aqui, do fundo do coração, ou do cérebro, como preferirmos, que para o efeito tanto dá, que já me dividi por zero várias vezes. E o resultado bateu sempre certo. Até podia dar um poema.
Mas adoro que argumentes contra, querido/a anónimo/a, isto é como discutir comigo mesma ao espelho.

(*) dados estatísticos ficcionais, meramente ilustrativos.