O vento bate nas jarras e derruba as flores.
Tu sonhas de noite que não as consegues apanhar
porque elas voam sempre à tua frente.
De manhã as flores não estão lá
porque os coelhos selvagens as devoraram.
Deixaram os caules e defecaram onde comeram.
As floreiras estão cobertas de fezes e a relva está morta.
Vêem-se armadilhas para coelhos até ao infinito.
As inscrições estão cheias de erros ortográficos e gramaticais
e o meu riso profano corrompe o silêncio.
Tenho vontade de cantar para contrariar isto tudo;
se ao menos soubesse tocar guitarra
tudo seria diferente.
E não há ninguém que apanhe as jarras,
não há ninguém que limpe as flores secas,
ou que troque as de plástico que debotaram com o sol.
Ao lavar o mármore a água escorreu-me para os pés,
fiquei com os dedos cobertos de areia negra.
Por mais que os lave,
por mais que os lave,
tenho os mortos agarrados aos pés.
Esta noite pensei nos coveiros.
Vão jantar os coelhos que comeram as flores dos mortos.
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