quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Do saber esperar.

Às vezes penso que vou esperar para sempre. Gabo a mim mesma a minha enorme paciência mas até eu tenho momentos de dúvida. Às vezes tenho vontade de desistir, vontade de esquecer, vontade de ser egoísta para sempre. Às vezes quero procurar um prazer simples, sem quaisquer intenções nobres à mistura, sem ser maior do que ninguém, sem as presunções de uma moralidade auto-imposta. Esta vigilância constante cansa-me. É difícil ter bons sentimentos quando os faço durar tanto. A solidão torna-se confortável ao fim de algum tempo e o amor é de facto o lugar mais estranho de todos. Quando chega ao fim sinto alívio porque posso voltar a mim, voltar para mim, ao meu egoísmo, à minha solidão confortável, ao meu normal.

Claro que as leis universais não se aplicam a mim. Nem tudo se transforma. Há coisas que se perdem. Eu podia dizer que o grande amor que tenho dentro de mim se transforma nestas palavras e por isso não se perde e é valioso. Mas seria mentira. Também podia dizer que são dor. Mas também não seria verdade. A minha dor já deixou de ser dor há muito tempo e agora é apenas nostalgia. As palavras são o que são. São a minha ficção egocentrada.

Isto não quer dizer que eu não seja feliz. Sou talvez uma das pessoas mais felizes que conheço. E eu conheço-me bem, que não restem dúvidas disso só porque às vezes ainda me consigo surpreender. E mal posso esperar pela próxima grande surpresa. Mal posso esperar pelo momento em que vou perder a paciência, o momento da explosão, do desastre, da fúria devastadora, da revolução. É por esse momento de revolta contra mim mesma que espero. Pacientemente, espero pelo momento em que não vou esperar mais.

2 comentários:

Ishkur disse...

Tenho de confessar que este foi dos teus textos que mais gostei de ler.*

Susana disse...

Obrigada. Às vezes basta isso para eu querer escrever. :) Beijos