É depois das noites sem dormir que penso melhor. Talvez porque pense mais em linha recta. O cansaço não permite as contracurvas costumeiras. O sono, ou a falta dele, transforma-se num tipo de energia diferente. Distante. Fico ausente do tempo real embora o espaço fosse familiar, demasiado até. Os óculos escuros protegiam-me os olhos do vento enquanto observava o vai e vem das nuvens, de barriga para cima. Passam-me trezentas imagens pela cabeça numa sucessão descontínua. O tema era sempre o mesmo. Estava feliz. Não, é exagero. Talvez me sentisse contente. Estava bem. Sim, por uma vez seria verdade e não o diria apenas por hábito. Não precisava de um espelho para ver que os olhos me brilhavam e dei por mim com um sorriso aparentemente indelével nos lábios. Não foi de propósito. É que me sentia bem. Meio febril talvez, mas isso seria das horas sem dormir acumuladas. Estava verdadeira. Estava real. Que seria feito daquela raiva toda que me apertava os dentes ainda na semana anterior? Agora fazia-me sorrir também. "Passou." Que grande calma para tanto vento. Quem me visse assim desgrenhada poderia pensar, sem dúvida, em loucura, em alucínio, mas confesso que há muito não me sentia tão sã. E não importava se no dia seguinte fosse a vez de me passar o bem-estar. Um dia bom é combustível para muito mau tempo. Nem a chuva me podia derrotar - porque nesse dia não me esqueci do chapéu e tinha vontade de andar.
E de súbito uma rajada de vento mais forte obrigou-me a fechar os olhos pois nem os óculos eram o suficiente para os proteger. Senti algo a embater no meu peito e a cair-me no colo. Abri os olhos de novo e peguei-lhe. Fiz girar entre os dedos o pequeno objecto quadrado e cinzento e soltei uma gargalhada. Uma tecla de computador: o número um e o ponto de exclamação. Trauteei para dentro: Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! No bom sentido é claro. Porque os sinais que me batem no peito só significam aquilo que eu quiser. O significado altera-se mas o sol está mais quente.
E de súbito uma rajada de vento mais forte obrigou-me a fechar os olhos pois nem os óculos eram o suficiente para os proteger. Senti algo a embater no meu peito e a cair-me no colo. Abri os olhos de novo e peguei-lhe. Fiz girar entre os dedos o pequeno objecto quadrado e cinzento e soltei uma gargalhada. Uma tecla de computador: o número um e o ponto de exclamação. Trauteei para dentro: Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! No bom sentido é claro. Porque os sinais que me batem no peito só significam aquilo que eu quiser. O significado altera-se mas o sol está mais quente.
1 comentário:
Para quê metaforizar a vida, se ela se encarrega de nos fornecer os dados? É só pegar-lhes miúda!! Só pegar-lhes!!
p.s.: que bom, que bom que voltaste! já tinha saudades...
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