segunda-feira, 19 de junho de 2006

Sou uma cicatriz ambulante.

Será que realmente quando chegar ao fim da minha vida vão ser poucas as pessoas que verdadeiramente fizeram diferença? É o que se costuma dizer. Não consigo deixar de duvidar.
Vejo esta fase da minha vida como uma espécie de fim do começo. E quando olho para trás, as lembranças são mais que muitas e há tantos marcos históricos que levaria páginas e páginas a descrevê-los. E a minha vida nem tem sido assim tão interessante. Mas se me puser a pensar nas pessoas que tiveram um significado especial, nas que mudaram qualquer coisa em mim, que me acrescentaram, que fazem parte do meu eu actual, de uma maneira ou de outra, são muitas. Muitas, a sério. Os dedos das mãos não chegam para as contar, nem de perto, nem de longe. A verdade é que sendo tão nova tenho uma lista longa de pessoas, de histórias, de cicatrizes. No fundo, são estas que me formam, que me dão forma, que me transformaram. Uns eram amigos, outros nem por isso, outros foram paixões, outros ainda foram exemplos. Dos amigos e das paixões, há muitos que sobreviveram no meu coração, outros não sei bem em que canto de mim os guardo, talvez apenas no das recordações.
A questão reside provavelmente na idade. Enquanto somos jovens, damos muita importância a tudo. Talvez com o tempo passe. Também dizem que o tempo cura tudo. Mas o tempo não cura a saudade. O tempo agrava-a. E eu já tenho muitas saudades. Se fosse escrever um livro sobre cada uma das saudades que sinto, tinha material para uma colecção inteira, para uma vida inteira. Material constantemente renovado. Porque há sempre saudades novas que se vêm acrescentar às antigas, e as antigas nunca morrem.
A saudade é o que vem preencher o vazio deixado por alguma coisa ou por alguém. E é este constante sentimento de perda que me oprime. É a saudade que me aperta o coração. É por cima da saudade que me custa a respirar. É na saudade que perco o olhar quando ele está distante. Tenho tantas saudades... Tenho saudades de um amor que estrangulei à nascença. Tenho saudades de outro amor, que não me deixava comer, nem dormir, nem nada, porque só tinha tempo para amar enquanto amei. E também tenho saudades do primeiro, tão tímido e tão criança que todo ele era silêncio. Tenho saudades de uma amiga que fiz quando tinha doze anos e hoje não sei que será feito dela. - "Bye, angel." - Nunca soube dizer adeus. Há coisas tão fortes que nunca morrem. Há histórias que o tempo não apaga. No mundo da saudade, o tempo não existe. Não importa se foi esta tarde ou há dez anos. O que resta é a saudade.
E se, como dizem, antes de morrer me passar diante dos olhos o filme da minha vida, e nele estiverem incluídas todas as pessoas importantes para mim, vai ser uma morte lenta, mas nada dolorosa. Ou então, se para minha surpresa, o filme for mesmo rápido, vou perceber que vivi enganada. E só aí é que vou dar o braço a torcer. Depois de morta.





*




ISTO

Não queiras, não perguntes, não esperes.
Isto que passa como vida e tu
medes em dias, horas e minutos,
ou como tempo passa e vais medindo
em rugas e lembranças e em sombrias
e plácidas visões de coisa alguma,
às vezes sorridentes, mas sombrias;
sim:
isto, a que dás nomes, que separas
do resto em que surgiu, de que surgiu;
isto, que já não queres, não interrogas,
de que já nada esperas, mas que queres,
por que perguntas sempre, e por que esperas;
isto, que não és tu, nem vai contigo,
nem fica quando vais; em que não pensas,
porque ao medir apenas medes e
nada mais fazes que medir - só isto,
apenas isto, isto unicamente:
não queiras, não perguntes, não esperes,
que o pouco ou muito é tudo o que te resta.

Jorge de Sena

2 comentários:

Catarina disse...

Lindo demais Su...
E agora que vais para Erasmus, acredita que muitas mais vão ser essas saudades mas, a surpresa, é que essas saudades vão ser boas...dolorosas, mas deliciosas...
E vais poder construir mais uns quantos minutos desse longo filme...
Porque a saudade é quase como o sonho, "uma constante da vida"!
*Adoro-te*

Anónimo disse...
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