segunda-feira, 13 de março de 2006

Ser ou não ser?

Nunca fui capaz de definir muito bem se sou uma optimista ou uma pessimista. Há muito tempo que sou fiel ao princípio de esperar sempre o melhor estando preparada para o pior. Lá está! A tal história do hipotético e do relativo. Ou não tivesse este blogue o título que tem! Nunca se sabe. Prefiro concentrar-me em encontrar as perguntas certas que em procurar respostas. Acho que as respostas é que, mais tarde ou mais cedo, acabam por me encontrar a mim. Mas para as compreender tenho de estar preparada para elas. E que melhor forma de estar preparada para o abalo das respostas do que tendo as questões possíveis já imaginadas? Assim talvez não precise de me sentar, e respirar fundo seja o suficiente. Este é um dos motivos porque o Shakespeare e o Sérgio Godinho são importantes para mim. (*)

Hoje apercebi-me de uma coisa. E é tão óbvio, tão óbvio, que me senti estúpida por só agora ter dado forma a esta ideia, ou sentimento, ou seja lá o que puder ser. Tudo junto, se calhar. Às vezes ponho-me a sofrer por antecipação. Pronto, muitas vezes. Mas a verdade é que não é por estar preparada para o pior que se o pior acontecer vai doer menos. Talvez até, por acumulação, doa mais. Acaba por ser tudo um pouco inútil. Só vale a pena prever o pior se fizer alguma coisa para o impedir. E se estiver fora do meu alcance, se for algo de inevitável, caso se concretize, há tempo de sobra para lamentá-lo.
Enquanto só existe a dúvida, o melhor é ser feliz, antes que chegue a certeza. Senão nunca podia sorrir.

E neste momento, apesar de ter medo do que possa vir aí, e porque se trata de uma daquelas hipóteses que me deixam impotente, de mãos atadas contra a vida, não posso deixar de sorrir. Porque a esperança é maior do que tudo. E porque se calhar ninguém acredita tanto como eu. Que vai correr tudo bem. Ou talvez seja apenas ingenuidade minha. Infantilidade até. Mas a verdade é que enquanto os vejo todos de rosto fechado e olhos húmidos (porque é que ninguém fala?), vejo-me a mim no meio, de sorriso nos lábios, voz alegre e palavras leves, e sinto-me ridícula. Porque também tenho o coração apertado e vontade de chorar. Provavelmente julgam-me insensível, indiferente, ou pior, julgam-me tola. Mas não me importo, porque se calhar assim não lhes peso no coração.




(*)

Ser ou não ser gente
ter ou não ter sonhos
mais exactamente
vir
à tona dos sonhos
Ter sempre a certeza das dúvidas
por via das dúvidas saber o que achar
(...)

Ser ou não ser, Sérgio Godinho



To be, or not to be: that is the question
[...]to die to sleep!
To sleep, perchance to dream, ay there's the rub,
For in that sleep of death what dreams may come

Hamlet, William Shakespeare

1 comentário:

Anónimo disse...

Não consigo distinguir onde começou a provocação!Se na menção a Oscar Wilde no post anterior, se na citação de Shakespeare neste post... :p Como tal não me podia abster de comentar. E para dizer apenas isto. Serás decerto tola...mas não te sintas mal porque não és a única por aí! Fala outro tolo... :) lol A meu ver não é uma questão de optimismo nem pessimismo, é viver! Sem esperar o que seja, mas também sem temer o pior... porque as coisas quando têm de acontecer, acontecem. E quanto a isso ninguém pode fazer nada! :)

Beijo***