quinta-feira, 23 de março de 2006

Dias chuvosos

Porque será que nos dias em que choro não posso sair à rua sem levar com uma chuva de piropos? É ridículo. Vai uma pessoa a sentir-se miserável e ainda tem de ouvir baboseiras daquelas. Não há direito! Será uma tentativa do Universo para me fazer sentir melhor? Lamento, mas se era essa a intenção, não dá lá grande resultado. Antes pelo contrário. Ainda me consegue deixar mais mal-disposta.
E quando estou naquele dark mood em que só me apetece ficar em casa enrolada no sofá, debaixo de uma manta, a ver filmes lindos e deprimentes, mas faço um esforço e vou sair para ver pessoas e me dizem Estás tão bonita hoje!! Não é que duvide da visão das pessoas, mas quando me sinto tão na merda, custa-me a acreditar. Daí que a resposta seja um Obrigada!... sumido e um sorriso amarelo. Não é timidez nem modéstia. É só descrença.
Isto tudo leva-me a chegar a uma conclusão. Porque depois de alguns anos de meditação sobre o assunto, cheguei sempre à mesma conclusão, é verdade. Talvez seja uma predisposição humana para achar bonito o que é triste. De ver beleza na melancolia. Se calhar a Maria Madalena nem era tão bonita quanto se pensa. Mas a vida infeliz dela pode ter-lhe conferido aquela aura de beldade tétrica. Assim uma mistura de sangue, lágrimas e beleza, em que umas se confundem com as outras. De outra forma não faz sentido acharmos um rosto contorcido, vermelho, inchado, de olhos, nariz e boca molhados de lágrimas, ranho e baba, belo em vez de grotesco.

1 comentário:

Anónimo disse...

Confesso-me culpado, mas há algo de belo na tristeza. Uma certa beeter-sweetness. Não sei, há muitas explicações possíveis. Talvez uma pessoa triste seja mais interessante (não se diz que a ignorância é felicidade?), talvez seja apenas uma necessidade de confortar quem precisa, ou talvez a solução machista (atenção à expressão cabreira), dár vontade de escudar aquela coisinha fofa que está a chorar.