sexta-feira, 3 de março de 2006

A pensar morreu um burro.

E de repente, nasce-me uma vontade de fazer tudo!
De ouvir todas as músicas que há para ouvir, de ler todos os livros que há para ler, de ver todos os filmes que há para ver. De tirar fotografias a tudo e a todos para nunca me esquecer de nada nem de ninguém. De escrever todas as palavras, todas as ideias, para não deixar fugir nenhuma. De gravar todos os risos e todas as vozes à minha volta porque são tão bonitos e queria poder ouvi-los sempre.

E olho em meu redor.

Estou num quarto onde reina o caos e a confusão porque nunca tenho tempo de o arrumar. Proliferam os cadernos vazios e ainda a cheirar a novo em que nunca tive tempo de escrever. Tenho um livro na secretária, à espera que eu lhe volte a pegar. Já está à espera há quase um mês. E tantos outros na prateleira à espera de vez. Tenho um computador cheio de músicas que nunca ouvi e tão cedo não vou ouvir. Porque não tenho tempo. Tenho molduras vazias porque nunca tive tempo de as encher de fotografias. Na rua, lá em baixo, aqui ao lado, tenho um clube de vídeo do qual nunca me fiz sócia. E tive tanto tempo...

Estava sentada no sofá a pensar. Só a pensar. O cérebro fervilha-me de ideias, desejos, recordações. De palavras. E deixo-me estar assim, a pensar. A vida toda assim. Desde sempre ou há mais tempo do que me consigo lembrar.
Penso demais. Às vezes dou por mim a pensar que penso demais.
Vou sair para comprar mais um livro! E penso pelo caminho.

5 comentários:

Deb disse...

:)
Este texto é o meu autêntico espelho. Também eu adio diariamente a arrumação do meu quarto, a leitura completa de 1001 livros, o uso de cadernos que comprei para "escrever sobre isto".

Também eu me desculpo constantemente com a falta de tempo que é impossível ter. Porque não sou mãe de família (!), não vivo fora de Lisboa nem preciso por isso de acordar pelas 6h da manhã.

Se calhar temos esta presunção de adiar as coisas por pensarmos que o Mundo precisa de nós no nosso tempo livre. Talvez não. Deveríamos sugar cada instante para aproveitar o que dizemos gostar dessa totalidade de instantes que é a VIDA!

"Penso demais". Escrevi há pouco tempo essa expressão. Concluí até que vivo pouco, porque penso demais.

Ora, se pensamos de igual forma, e não seremos as únicas com certeza, porque não formar um movimento que lute contra esta inércia?

Beijo com pitada de diletantismo...

N disse...

Definitivamente, um espelho. Também eu vivo pouco para aquilo que desejo, penso e vou adiando. Mas também já resolvi: Não vou adiar mais!

Débora disse...

Ao ler este texto, ocorreu-me, de imediato, o seguinte poema de Fernando Pessoa:

"Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço -

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem."

Acho que esta é uma sensação universal, comum a toda a gente. Tudo o que deixamos por fazer pela vida fora...

Espero ter o tempo necessário para poder voltar a este blog, do qual gostei muito.

Anónimo disse...

Como te compreendo...ou não acontecesse comigo a mesma coisa. Temos de aproveitar para pensar enquanto fazemos outras coisas, e não simplesmente pensar. Já consegui começar a pensar menos. :)

Anónimo disse...

Subscrevo.