terça-feira, 20 de dezembro de 2011

poema de amor

esta nobre e modesta solidão
que com tanto empenho me imponho
é a máscara triste da negação
compreendo agora, suponho

e ao fim deste tempo todo
fica-me apenas uma questão
como não adorar-te?

a ti inteiro, e ao teu modo
com as imperfeições que venero
a tua busca incessante
por coisas que nem eu pondero

as tuas interrogações e a incerteza
as palavras tristes e a voz cansada
a desilusão que parece estar-te sempre reservada
mesmo que não seja da tua natureza

ainda acreditas que vai ficar tudo bem

e eu encontro-me sem opção
é imperioso reformular
como não amar-te?

cheguei ao termo da minha negação
renego todos os corpos
em que me afoguei para me esquecer
reconheço os destinos tortos
que tomei para não ver

e só quando te vi
é que tive noção
compreendi
-- com todas as consequências que podemos prever
hoje já, ou ontem, de antemão --
quantas saudades sinto de ti

nunca te falei da tua beleza
nem da cor dos teus olhos
nunca referi como me sentia indefesa
sempre que me fazias tremer os joelhos

lamento o que escondi
e lamento a minha falta de coragem
lamento o quanto fugi
e lamento ter-te feito perder a viagem

a última coisa que digo
e a única que peço, por favor
nunca digas que morreste
sem que alguém te escrevesse um poema de amor.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Poema do cilindro

Não és tu, sou eu.
Faço círculos completos,
às voltas sobre mim mesma,
numa espécie de dança sem correntes nem tempos.

Sou eu que ponho o meu peso todo num só movimento.
Circular.
Sou eu que não paro
não querendo sequer lá chegar.

Sou eu que transformo voltas simples
em movimentos complexos
e de círculos faço cilindros
e chego a lógicas e razões partindo de destroços desconexos.

Sou eu que vou em frente,
passo por cima, atropelo e esmigalho,
em arranques implacáveis,
fiel a nada se nem a mim me valho.

Vi-te muito bem.
E digo-to na cara:
fui eu que te cilindrei.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Capitão Patchouli

Capitão, Capitão
roubaste o meu coração
Capitão Ladrão
fugiste com ele na mão
Capitão Perfume
sem pista nenhuma ateaste o meu lume
Capitão Beldade
encheste-me a vista, talvez da idade
Capitão Improvável
acordaste o meu modo implacável
Capitão Execrável
nem és decapitável
Capitão Cruel
não hás-de provar sequer o meu fel
Capitão Impossível
não há rumo para este desnível
Capitão Torto
nem morta, nem morto
Capitão Patchouli
nem deste por isso quando me escapuli
Capitão, Capitão
resta apenas dizer que não.
Porque não, porque não, meu Capitão.