segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Poema de atormentar o coração.

Sinto o meu coração a dilatar e a encolher.
Sinto-o contrair e sinto-o expandir nas minhas mãos,
como um brinquedo de borracha.
E o meu coração é maleável, é moldável.
Brinco com ele como quem brinca com as palavras
imaginando sentir coisas, ensaiando tentativas,
como se lhe atasse fios invisíveis
para o controlar, para o manipular.

Assusto-me.
Tenho medo de mim e do meu coração mutante.
Sinto o meu corpo todo pulsar,
no centro o coração, como uma bomba-relógio,
como se o meu tempo fosse acabar a qualquer momento
e esse momento estivesse cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
- e está, eu sei,
aflitivamente, sei -
sem que eu tivesse tempo de sentir tudo o que queria.

Nunca tive tempo,
não me deram tempo,
não me deram o que eu queria,
não me deixaram sentir,
não me fizeram sentir
e eu perdi tempo,
perdi-me,
não me deixei sentir,
não deixei que me sentissem
e não deixo,
nunca,
eu sei.

Parece que esgotei o meu sentir
nuns quantos momentos da minha vida inteira,
e que já não posso voltar a sentir-me assim
porque esses momentos já passaram.
E eu vejo os lugares, vejo as pessoas,
e é como se contasse uma história a mim mesma,
antes de ir dormir.
Uma história de quanto eu amei, de quanto eu sofri,
de quanto eu chorei, de quanto eu vivi,
de quanto eu gritei de todas as vezes que morri.
De amor.

E o meu coração enrola-se a um canto
e quer dormir, mas eu não permito,
não lhe dou sossego, não o deixo em paz.
Obrigo-o a pensar. Analiso-o
e tento fazê-lo fazer-me compreender
e tento fazê-lo compreender-me,
a mim e às minhas razões,
chocalho-o e agito-o no ar,
e grito com ele e faço-o chorar,
digo-lhe a verdade e forço-o a ver.
E escrevo-lhe poemas para ele não se esquecer.

1 comentário:

Ishkur disse...

"Parece que esgotei o meu sentir
nuns quantos momentos da minha vida inteira,
e que já não posso voltar a sentir-me assim
porque esses momentos já passaram.
E eu vejo os lugares, vejo as pessoas,
e é como se contasse uma história a mim mesma,
antes de ir dormir.
Uma história de quanto eu amei, de quanto eu sofri,
de quanto eu chorei, de quanto eu vivi,
de quanto eu gritei de todas as vezes que morri.
De amor."


É isto... tão verdadeiro que dói.