Há quotas para tudo,
neste Mundo.
Talvez até as gargalhadas estejam contadas
e inequivocamente distribuídas.
De uma maneira ou de outra,
as quotas têm de ser preenchidas,
todos os dias.
Curei as tuas feridas.
Mas ao trazer-te paz
precisei de sofrer para apaziguar as quotas do Mundo.
Por me rir contigo
fui obrigada a chorar sozinha.
Por sorrir quando te vejo
o meu olhar sobre o rio é triste.
Porque descobri a cor dos teus olhos,
agora as flores não me cheiram a nada.
Mas troco qualquer perfume
por um olhar teu.
Tenho tanto para dar
que me assusta o que posso perder.
Se eu beber das tuas lágrimas
poderão elas matar-me?
Talvez o que tu tens para me dar
possa equilibrar a quota da coragem
que eu ainda não preenchi.
Ou talvez tudo isto
seja um pequeno preço a pagar
por me perder em ti.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Poema de atormentar o coração.
Sinto o meu coração a dilatar e a encolher.
Sinto-o contrair e sinto-o expandir nas minhas mãos,
como um brinquedo de borracha.
E o meu coração é maleável, é moldável.
Brinco com ele como quem brinca com as palavras
imaginando sentir coisas, ensaiando tentativas,
como se lhe atasse fios invisíveis
para o controlar, para o manipular.
Assusto-me.
Tenho medo de mim e do meu coração mutante.
Sinto o meu corpo todo pulsar,
no centro o coração, como uma bomba-relógio,
como se o meu tempo fosse acabar a qualquer momento
e esse momento estivesse cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
- e está, eu sei,
aflitivamente, sei -
sem que eu tivesse tempo de sentir tudo o que queria.
Nunca tive tempo,
não me deram tempo,
não me deram o que eu queria,
não me deixaram sentir,
não me fizeram sentir
e eu perdi tempo,
perdi-me,
não me deixei sentir,
não deixei que me sentissem
e não deixo,
nunca,
eu sei.
Parece que esgotei o meu sentir
nuns quantos momentos da minha vida inteira,
e que já não posso voltar a sentir-me assim
porque esses momentos já passaram.
E eu vejo os lugares, vejo as pessoas,
e é como se contasse uma história a mim mesma,
antes de ir dormir.
Uma história de quanto eu amei, de quanto eu sofri,
de quanto eu chorei, de quanto eu vivi,
de quanto eu gritei de todas as vezes que morri.
De amor.
E o meu coração enrola-se a um canto
e quer dormir, mas eu não permito,
não lhe dou sossego, não o deixo em paz.
Obrigo-o a pensar. Analiso-o
e tento fazê-lo fazer-me compreender
e tento fazê-lo compreender-me,
a mim e às minhas razões,
chocalho-o e agito-o no ar,
e grito com ele e faço-o chorar,
digo-lhe a verdade e forço-o a ver.
E escrevo-lhe poemas para ele não se esquecer.
Sinto-o contrair e sinto-o expandir nas minhas mãos,
como um brinquedo de borracha.
E o meu coração é maleável, é moldável.
Brinco com ele como quem brinca com as palavras
imaginando sentir coisas, ensaiando tentativas,
como se lhe atasse fios invisíveis
para o controlar, para o manipular.
Assusto-me.
Tenho medo de mim e do meu coração mutante.
Sinto o meu corpo todo pulsar,
no centro o coração, como uma bomba-relógio,
como se o meu tempo fosse acabar a qualquer momento
e esse momento estivesse cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
cada vez mais perto,
- e está, eu sei,
aflitivamente, sei -
sem que eu tivesse tempo de sentir tudo o que queria.
Nunca tive tempo,
não me deram tempo,
não me deram o que eu queria,
não me deixaram sentir,
não me fizeram sentir
e eu perdi tempo,
perdi-me,
não me deixei sentir,
não deixei que me sentissem
e não deixo,
nunca,
eu sei.
Parece que esgotei o meu sentir
nuns quantos momentos da minha vida inteira,
e que já não posso voltar a sentir-me assim
porque esses momentos já passaram.
E eu vejo os lugares, vejo as pessoas,
e é como se contasse uma história a mim mesma,
antes de ir dormir.
Uma história de quanto eu amei, de quanto eu sofri,
de quanto eu chorei, de quanto eu vivi,
de quanto eu gritei de todas as vezes que morri.
De amor.
E o meu coração enrola-se a um canto
e quer dormir, mas eu não permito,
não lhe dou sossego, não o deixo em paz.
Obrigo-o a pensar. Analiso-o
e tento fazê-lo fazer-me compreender
e tento fazê-lo compreender-me,
a mim e às minhas razões,
chocalho-o e agito-o no ar,
e grito com ele e faço-o chorar,
digo-lhe a verdade e forço-o a ver.
E escrevo-lhe poemas para ele não se esquecer.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
De me lembrar das coisas.
Estive a pensar em ti, mais uma vez, e a lembrar-me de coisas pequenas, de pormenores soltos. Gostava que pudesses fazer o mesmo. Gostava que tivesses uma memória igual à minha, para te lembrares de tudo o que eu disse e com que intenção. Para te lembrares do que eu tinha vestido quando o disse e quais os gestos que fiz. Acho que se tivesses uma memória como a minha me terias amado mais. Talvez me tivesses conhecido melhor, compreendido melhor. Imagino que te lembres vagamente do meu cheiro e da cor dos meus olhos. Mas queria que te lembrasses do resto. Que as minhas palavras te ressoassem nos ouvidos e no coração. Não eram apenas pistas, não eram simples divagações. Eram ideias claras, mapas, bússolas, barómetros. Desenhei com nitidez tudo o que sentia para tu poderes ver. Mas não te consegues lembrar. Ficou-te uma vaga ideia. E eu lembro-me de todas as revelações, de todos os indícios, de todos os pressentimentos, de tudo o que tentaste dizer e tudo o que eu pude adivinhar em reticências inconsequentes. Talvez por isso eu soubesse amar tanto e tão bem. Talvez por isso eu saiba amar melhor. Sinceramente.
Claro que também me lembro de coisas tristes, mas depois de terem passado e serem apenas memórias, fazem-me sorrir. Mesmo as tristes. E claro que às felizes também sorrio. É por isso que às vezes pareço tola, de tanto me rir sozinha. É que me lembro de tudo e há sempre qualquer coisa a acordar em mim a cada momento. E eu rio, apenas. E é bom, e eu gosto de me lembrar de ti. Mas se me lembrar mais do que um bocadinho, se tiver tempo para me ficar a lembrar de ti uma tarde inteira, o sorriso torna-se amargo, azeda-me na boca. Porque sei que me lembro sozinha. E já era assim antes. Antes do fim. O fim, que nunca é bem um fim, tu sabes. Comigo nunca nada é uma coisa só. Talvez por isso te tenhas perdido, nas bifurcações. Quando me doer a cara de tanto me lembrar de ti, hei-de procurar-te, outra vez. Para te fazer lembrar um bocadinho, mesmo sabendo que a ti te custa. Mas é importante que lembres. Para que as coisas não percam o sentido. Para que saibas porquê. Para que compreendas melhor. Para que compreendas que o teu amor é simples de mais para mim. Para que compreendas que não basta amares o meu cheiro e a cor dos meus olhos, ou uma vaga ideia de mim. Mas mesmo que não compreendas, eu perdoo-te. Já perdoei antes. E vou continuar a lembrar-me de quem tu és debaixo disso tudo, mesmo que já não te lembres de me teres mostrado.
Claro que também me lembro de coisas tristes, mas depois de terem passado e serem apenas memórias, fazem-me sorrir. Mesmo as tristes. E claro que às felizes também sorrio. É por isso que às vezes pareço tola, de tanto me rir sozinha. É que me lembro de tudo e há sempre qualquer coisa a acordar em mim a cada momento. E eu rio, apenas. E é bom, e eu gosto de me lembrar de ti. Mas se me lembrar mais do que um bocadinho, se tiver tempo para me ficar a lembrar de ti uma tarde inteira, o sorriso torna-se amargo, azeda-me na boca. Porque sei que me lembro sozinha. E já era assim antes. Antes do fim. O fim, que nunca é bem um fim, tu sabes. Comigo nunca nada é uma coisa só. Talvez por isso te tenhas perdido, nas bifurcações. Quando me doer a cara de tanto me lembrar de ti, hei-de procurar-te, outra vez. Para te fazer lembrar um bocadinho, mesmo sabendo que a ti te custa. Mas é importante que lembres. Para que as coisas não percam o sentido. Para que saibas porquê. Para que compreendas melhor. Para que compreendas que o teu amor é simples de mais para mim. Para que compreendas que não basta amares o meu cheiro e a cor dos meus olhos, ou uma vaga ideia de mim. Mas mesmo que não compreendas, eu perdoo-te. Já perdoei antes. E vou continuar a lembrar-me de quem tu és debaixo disso tudo, mesmo que já não te lembres de me teres mostrado.
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