E de repente, fez sentido. Não era uma história simples, o que eu queria mostrar não eram as calamidades de uma tragédia de amor impossível. Era sobre o amor, sim, mas mais do que isso, era sobre como o amor é possível. E depois de todos os episódios dramáticos que me inundavam o cérebro percebi onde estava a razão. E o desafio de que sempre fugi. O desafio pronunciado há muitos anos, nas palavras tímidas de um amigo que sempre soube perceber o que era, até mesmo antes de mim. "Nunca vais ser feliz enquanto não conseguires escrever quando estás feliz. " Soavam a profecia, pareciam impossíveis de cumprir. Martelavam-me as ideias de tempos a tempos. E depois de tanto tempo, houve um momento de clareza. Foi a primeira história, a primeira de todas, a que me fez querer continuar, a que pela primeira vez me fez sentir aquela coisa indefinível que é sede e saciedade ao mesmo tempo, que é gloriosa mas aterradora, que me deixa num limbo entre o desespero e a esperança. A história inacabada: “Eles estavam felizes e eu não fui capaz de escrever mais.” Eu sabia que a história era trágica, afinal era da minha cabeça, e por mais que eu gostasse de dizer que o que sentia era piedade (pobres personagens a quem vou roubar a felicidade que eu mesma ofereci), a versão sincera obriga-me a admitir que era inadequação. Afinal, nunca tive qualquer espécie de escrúpulos no que diz respeito a finais cruéis. Agora sei que o final trágico que eu tinha previsto, pode ser apenas o início de algo muito maior. E finalmente, a primeira história ganhou um objectivo, já não está irremediavelmente perdida. Ao fim de tantos anos, encontrei o sentido que lhe faltava. Finalmente, pode deixar de ser mais uma história de amor trágico e impossível. Será a primeira história feliz.
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2 comentários:
É bom, não é?
Tu mereces uma história de amor só tua.
:)
Que se lixe Shakespeare e a sua tragédia. Ele que fique às voltas na campa. Venham os finais felizes de que falas. Porque são finais como esse que podem trazer luz sobre as perspectivas de muita gente, que segue paciente, na esperança de encontrar um dia um motivo que faça acreditar:
"não é em vão... este mundo não pode ser tão louco. há uma razão para amar."
Eu vou seguindo os teus relatos.
Beijo*
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