sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Recomeço (?)

A PRIMEIRA PALAVRA
é sempre difícil de escolher. O meu mal é preguiça. Falta de vontade. Por maior que seja a inspiração, nunca é suficiente. E são tantas as ideias, tantas as palavras que tenho por escrever, que me perco nelas e não dou forma a nada, a não ser em pensamento. Passo a vida a escrever em pensamento. Por isso achei que estava na altura de tentar pensar por escrito. Não que os meus pensamentos sejam assim tão elevados que mereçam ser lidos, mas pelo menos desta forma têm um propósito, uma finalidade. Um depósito, vá. É isso mesmo: um depósito de ideias. Pode ser que um dia mais tarde venha vasculhar nelas e valha a pena limpar-lhes o pó.

UM PEQUENO GRANDE PASSO
Parece tão fácil. É apenas pegar numa caneta e num papel. O resto já cá está. Ou então surge como que por magia. Geração espontânea. Maravilhas da ciência. E que saudades do cheiro da minha caligrafia. Palavras acabadas de escrever. E, no entanto, estão quietas há tanto tempo (parece mesmo muito) que libertam um leve aroma a bafio. Saiam daqui, ideias velhas! Deixem-me de vez. Chega de colo. Estão para lá de maduras, quase fora do prazo. E recorrentes, as sacanas.
Eu sei que as estou a expulsar, mas no fundo tenho medo de as perder. E se se esgotam? E se não houver outras novas? Se me secam nas veias, o oxigénio não chega às células. Mais vale parar de respirar.

OS MISTÉRIOS DA VIDA
São muitos, é verdade. E não tenho resposta para nenhum. Mas o que me apoquenta agora é este. Porque é que me privo daquilo que gosto? Do que me faz existir; ser real; verdadeira? É que este rosto de papel é o mais parecido comigo que tenho. Como costumo dizer que os óculos-fundo-de-garrafa são o meu verdadeiro eu. Assim como fechei esse eu na caixa, quererei trancar o resto? Não chega já de fugir?
Ganha juízo; muda de vida. Deixa-te de lérias, mulher!