A
estranheza de ver um gajo fugir. Desarvorado como se o fossem apanhar para
comer, cuspir os ossos e as gordurinhas todas e arrotar meio para dentro, meio
para fora. Como se a criatura não soubesse que mais tarde ou mais cedo vai
encontrar tudo de frente e não ter por onde fugir sem ser ainda mais forte que
essa vontade a vergonha. Como se ele não soubesse que está vivo como um
condenado que tem de cumprir a sua perpétua má acção atrás de má acção, decisão
errada atrás de decisão errada, tentativa falhada atrás de tentativa falhada,
espalhanço atrás de espalhanço, sem que ele possa fazer nada para o impedir. Tudo
o que ele tem de fazer é continuar sabendo que pior do que fazer uma má acção
ou fazer uma decisão errada ou fazer uma tentativa falhada ou fazer um
espalhanço, seja dele ou de outrem, ou das duas variedades, cada uma por sua vez,
é não poder fazer nada disto. Ora ele ficando a enfrentar o deixar-se estar é
fazer uma tentativa falhada de assim ficar; ora ele fugindo de se deixar estar
é fazer uma tentativa falhada de não pensar muito nisso porque enquanto se
pisga vai a consciência a dizer-lhe, que nojo, que nojo, vais a fugir. E lá
fica com o nojo próprio a ocupar-lhe a cabeça o resto do dia, pelo menos. Havia
de ficar parado, imóvel, feito estátua, até lhe cagarem os pombos em cima, que
ia dar no mesmo.
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