em tempos fomos felizes
na nossa inocência aflita
tu beijavas-me as faces e eu sorria, embevecida
e falava-se muito
falava-se interminavelmente
falava-se para sempre
porque o tempo parava na tua voz
a tua voz vivia feliz para sempre nos meus ouvidos
e eu sei que fui eu que te fiz calar
fui eu que me cansei
mas foi um cansaço legítimo
de sentir a tua face na minha
brevemente, sempre brevemente,
e de saber que era isso para sempre
que ia sentir a tua pele e a tua voz para sempre
e que elas se misturavam nos meus sonhos
e agora custa-me sonhar contigo
porque já é tão raro
e tão raro ter saudades tuas
e tão raro ouvir a tua voz
cheguei ao limite de saber ser feliz contigo
e limitei-me a sair em silêncio
não sei se chegaste a ouvir o meu silêncio
porque não arranhaste a minha porta quando me calei para sempre
porque não procuraste corrigir a minha ausência
não procuraste impedir a minha fuga
e eu sei que queres que eu seja feliz para sempre
mas e se eu não puder,
se eu não souber ser feliz sem o teu nome nos meus olhos,
se eu não souber ser feliz sem a tua voz na minha almofada,
se eu não souber ser feliz com a minha ausência na tua pele
e se nunca voltarmos a dançar sem pensar nisso?
por mais raro que seja,
chega sempre um dia em que me volto a lembrar de ti
e em que a tua voz me pergunta qualquer coisa ao ouvido
e em que eu me lembro que a tua voz é minha para sempre
como a tua pele é minha para sempre
e que, de uma maneira ou de outra,
tu me pertences desde a primeira vez que a tua voz me fez sorrir.
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2 comentários:
sinto que o seu poema transmite tudo aquilo que eu sinto. Arrepiou-me ler os meus pensamentos que de maneira tão clara aqui estão escritos. Muito bom!
Obrigada, Isabel. Espero que continues a gostar do que aqui vou deixando. :)
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