em tempos fomos felizes
na nossa inocência aflita
tu beijavas-me as faces e eu sorria, embevecida
e falava-se muito
falava-se interminavelmente
falava-se para sempre
porque o tempo parava na tua voz
a tua voz vivia feliz para sempre nos meus ouvidos
e eu sei que fui eu que te fiz calar
fui eu que me cansei
mas foi um cansaço legítimo
de sentir a tua face na minha
brevemente, sempre brevemente,
e de saber que era isso para sempre
que ia sentir a tua pele e a tua voz para sempre
e que elas se misturavam nos meus sonhos
e agora custa-me sonhar contigo
porque já é tão raro
e tão raro ter saudades tuas
e tão raro ouvir a tua voz
cheguei ao limite de saber ser feliz contigo
e limitei-me a sair em silêncio
não sei se chegaste a ouvir o meu silêncio
porque não arranhaste a minha porta quando me calei para sempre
porque não procuraste corrigir a minha ausência
não procuraste impedir a minha fuga
e eu sei que queres que eu seja feliz para sempre
mas e se eu não puder,
se eu não souber ser feliz sem o teu nome nos meus olhos,
se eu não souber ser feliz sem a tua voz na minha almofada,
se eu não souber ser feliz com a minha ausência na tua pele
e se nunca voltarmos a dançar sem pensar nisso?
por mais raro que seja,
chega sempre um dia em que me volto a lembrar de ti
e em que a tua voz me pergunta qualquer coisa ao ouvido
e em que eu me lembro que a tua voz é minha para sempre
como a tua pele é minha para sempre
e que, de uma maneira ou de outra,
tu me pertences desde a primeira vez que a tua voz me fez sorrir.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Poema de seres um pão chinês.
Massa frita,
ligeiramente adocicada,
fofa e leve,
irresistível.
Ingredientes desconhecidos.
Provei um pela primeira vez,
mas só tive direito a metade
porque não era meu.
Foi partilhado.
E agora
não consigo deixar de pensar nele.
Quero um, todo para mim.
Tu és isto,
uma novidade estranha,
vinda de uma realidade distante.
Ainda nem sequer te provei,
ainda nem sequer te conheço bem,
e já te quero por inteiro.
Partilha-te comigo.
Divide-te por mim.
ligeiramente adocicada,
fofa e leve,
irresistível.
Ingredientes desconhecidos.
Provei um pela primeira vez,
mas só tive direito a metade
porque não era meu.
Foi partilhado.
E agora
não consigo deixar de pensar nele.
Quero um, todo para mim.
Tu és isto,
uma novidade estranha,
vinda de uma realidade distante.
Ainda nem sequer te provei,
ainda nem sequer te conheço bem,
e já te quero por inteiro.
Partilha-te comigo.
Divide-te por mim.
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