gosto de me sentar no banco da frente do teu carro
e que esse lugar seja sempre para mim
gosto de olhar para ti em silêncio
eu que nunca me posso calar
e eu que estou sempre tão nervosa
de pensar todos os tempos ao mesmo tempo
o tempo todo
o tempo todo
sentir-me calma só de te ouvir ininterrupto
tu que és sempre tão calado
e gosto de saber que nunca te hás-de calar comigo
a não ser que eu te faça calar
gosto que tentes dizer piadas
porque não tens graça nenhuma
e és sempre tão sério, tão sério
excepto agora aqui comigo
és sempre tão crescido, tão adulto
excepto quando tentas brincar comigo
e te esqueces de ser sério e crescido
gosto tanto que te esqueças disso
gosto tanto de estar contigo
e parece-me tudo tão belo e tão trágico aqui sentada
porque tu és tão belo e tão trágico
porque estás tão feliz comigo aqui
e tão aflito, tão aflito
sempre tão inadequado
mesmo agora aqui comigo
gosto que fumes sempre mais um cigarro
para olhares mais tempo para mim
gosto que nunca consigas escolher uma última palavra
e que atires sempre mais meia-dúzia da janela do carro
até que eu acene e me afaste
e eu nunca me esqueço de acenar e afasto-me sempre
gosto tanto de ter saudades tuas no momento em que nos vamos
separar
gosto tanto que a tua voz me doa de tanto, tanto gostar